quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

Das alimárias e afins



Hoje, à hora do almoço, no sítio do costume, em horário nobre, as notícias estavam a dar relevo às eventuais cuspidelas do presidente do Sporting sobre outro dirigente desportivo, cujo nome ignoro e nem me interessa saber. Um dos presentes, porventura o que zurra mais alto na sala, sem auscultar ninguém, como se no sofá da sua sala estivesse, foi aumentar o som do aparelho para um volume insustentável.

Depois ficaram todos a comentar, aos berros, as cuspidelas da alimária, como se se tratasse de uma notícia importante para a humanidade.

Entretanto, as notícias do futebol, que ocupam mais de 40% do telejornal das 13h00, deram lugar a um pequeno apontamento de reportagem sobre a cidade sitiada de Alepo, na Síria, onde se podiam ver vídeos, feitos por habitantes sitiados, colocados na Internet, a despedirem-se do mundo, à medida que o som da artilharia se fazia ouvir mais forte sobre o bairro habitacional onde se encontravam.

A mesma besta quadrada que havia aumentado o som do televisor, dirigiu-se, sem delongas, ao aparelho e baixou-lhe o volume.

Qualquer dia sou sexagenário e entristece-me ver este pobre país inundado num lamaçal de corrupção e incubador de gente desprezível, que só lê a Bola, o Rekord, e assiste às degradantes séries, os chamados "reality shows", que as televisões transmitem, desprezando a informação, a cultura, a elevação, a arte, a estética e a qualidade.

Estou-me nas tintas para o desporto rei, para os corruptos dos dirigentes desportivos e para os mexericos que giram à volta dos milhões que eles gerem. Acho que o futebol deveria ocupar um espaço simbólico no horário nobre do noticiário nacional e, para quem quisesse assistir, em detalhe, a tudo o que se passa no seio dessa atividade, bastariam os inúmeros programas desportivos das televisões.

As elites sempre foram perseguidas, apupadas, marginalizadas, até, mas são certamente o último reduto civilizacional e fomentador da elevação de um povo.

É trivial dizermos que temos o povo que merecemos mas, com franqueza, eu sei que muita gente não merece isto, pois, no que a esta "cultura de lixo" respeita, está isenta de culpa.


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