quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

O que é ser amado?



Ser amado pode ser considerado um desejo universal, pois é algo que praticamente ninguém rejeita; e, antes pelo contrário, muitas das atitudes e comportamentos que adotamos nos nossos quotidianos, têm em vista a satisfação da necessidade de sermos amados.

Todos nós temos interiorizada a certeza de que é preciso dar para receber e, muitas vezes, oferecemos amor, atenção e carinho, com a expetativa legítima de sermos correspondidos em igual proporção.

A demonstração do amor requer mais do que beijos, sexo, palavras, riso e companheirismo. Sentir-se amado é saber que existe uma pessoa que tem interesse real na nossa vida, que zela pela nossa felicidade e se preocupa genuinamente connosco. É, no fundo, sentirmos que somos aceites tal qual somos, sem termos de inventar uma personagem para apimentar a relação, e vivermos seguros de que as nossas qualidades são admiradas e os nossos defeitos tolerados, tudo graças à força maior que representa o amor.

Ser amado, seja por via de um relacionamento amoroso, por alguém que nos é muito próximo em termos de parentesco, ou por pessoas amigas, é condição absoluta para a felicidade de qualquer pessoa. Ninguém, com exceção de pessoas com graves distorções de personalidade ou afasias emocionais sérias, consegue sentir-se estável, equilibrado e feliz, se viver em estado de carência absoluta de amor.

Grande parte dos comportamentos violentos, da intolerância e, de um modo geral, das perturbações de caráter a que assistimos, com exceção de doenças psíquicas graves, é fruto de uma grande falta de amor. Trata-se de pessoas que são, ou sempre foram, seres mal-amados.

Com maior ou menor consciência desta necessidade, que não é exclusivamente humana, já que também existem animais capazes de expressar emoções e sofrer com a carência de afeto, de um modo geral, orientamos o nosso comportamento com vista a receber afeto - ainda que existam pessoas que, erroneamente, insistem em pensar o amor como algo transacionável, capaz de ser conquistado através da oferta de bens materiais.

Mas, mais fundamental do que ser amado, é o amor que conseguimos ter por nós mesmos. Quando gostamos de nós, sempre que conseguimos ter uma dose de amor-próprio razoável, fruto de termos atingido a paz interior e a aceitação necessária das nossas qualidades e defeitos, somos mais capazes de dar amor; e, sobretudo, não depender emocionalmente de outrem, ou nos dispormos a qualquer preço por uma réstia de afeto.

A carência é, no entanto, uma fonte pródiga de enganos e, não raro, entregamos o nosso maior afeto a quem não está de boa-fé connosco, nem sente por nós qualquer tipo de amor.

E, na eterna cruzada da busca do amor, para se ser amado é necessário vontade de entrega, sentimentos genuínos, bem como capacidade de análise do outro, e também uma boa dose de realismo.

Nem tudo o que reluz é oiro, pois, nas partidas da vida, há muitas pessoas que coletam lucros à custa da carência que os outros têm de amor. Regra geral, essas criaturas integram a fasquia marginal daqueles para quem o afeto não existe como necessidade. São seres doentios, parasitas da dor alheia, espectros a evitar.