terça-feira, 13 de agosto de 2019

Dos imigrantes





A imigração portuguesa em França em massa iniciou-se em meados de 1950 e durante as décadas de 1960 e 1970, para fugir da ditadura salazarista e, no caso dos homens, da guerra que se desenrolava nos territórios ultramarinos.

Foram milhares os portugueses que, entre finais dos anos 50 e início dos anos 70, passaram "a salto" as fronteiras para chegar a França, recorrendo a passadores para os guiarem, a depositários para guardarem o dinheiro da viagem, a transportadores e a angariadores de pessoas desejosas de emigrar. Os passadores que faziam este tipo de passagem viam - ou grande parte deles via - esta atividade como negócio.

Muitos dos imigrantes instalavam-se em bairros de lata da região parisiense, em condições insalubres de extrema miséria. A maioria destas pessoas era analfabeta, camponeses e aldeões que se empregavam como operários desqualificados, empregados de limpeza ou da recolha do lixo, em funções que os cidadãos franceses não queriam ocupar. Em Champigny-sur-Marne existiu o maior bidonville (favela) da história de França, ali residindo em barracas 15.000 pessoas.

Lembro-me do meu pai falar da censura exercida sobre um artigo do Paris Match, que publicava uma extensa reportagem fotográfica, sobre as condições miseráveis de vida dos nossos nacionais em meados dos anos sessenta.

Desde 2008 até 2014, têm-se registado significativos aumentos da emigração, sendo mesmo a maior de todos os tempos, devido à crise financeira que ocorreu em Portugal; e França continua a ser o país com maior número de portugueses residentes.

Felizmente, a nova geração de imigrantes portugueses em França, que vemos no mês de agosto encherem as praias, as aldeias e todos os lugares do país, não sofreram as agruras dos seus comparsas de primeira geração. Quando vêm de férias a Portugal, deslocam-se, na sua maioria, em viaturas novas, de alta cilindrada, que fazem questão de exibir, como sendo a prova do sucesso que fizeram em terras estrangeiras.

O sonho de quase todos os emigrados, no entanto, continua a ser o regresso ao país de origem, à aldeia natal, para passar uma velhice tranquila, na moradia vistosa que levou 30 anos de trabalho duro em França para construir. A casa terá de ser a maior e mais luxuosa da aldeia, para fazer morrer de inveja os vizinhos, decorada no género kitsch/emigrante, que todos conhecemos - muitos, velhos e incapacitados ao fim de várias décadas de trabalho intenso em França, deixam a humidade tomar conta dos andares cimeiros, tornados inúteis, do palacete de mil metros quadrados que erigiram, para viver o outono da vida unicamente no rés-do-chão. E as toneladas de cimento e tijolo gastos tornam-se uma amarga metáfora de 30 anos de vida em França.

Nos dias de hoje, muitos portugueses são patrões, fundaram empresas, obtiveram sucesso e contrariaram a pretensa imobilidade social dos imigrantes. Ainda há os que vivem menos bem, mas creio que serão uma minoria. Curiosamente, os turistas franceses que se deslocam a Portugal, na sua maioria, trazem automóveis de gama média ou baixa, contrastando com a ostentação dos portugas que por lá trabalham. E, das duas uma, ou os nossos emigrantes têm habilidades especiais para ganhar mais dinheiro do que os nacionais do país que os acolheu, ou há aqui bluff.

Dizem as más línguas, que muitos se endividam até às orelhas para comprar carros vistosos e que alguns são alugados. Seja como for, longe vão os tempos da mala de cartão da Linda de Suza e dos imigrantes desgraçados que vegetavam nos Bidonville dos arredores da Cidade Luz.