segunda-feira, 26 de novembro de 2018

Adeus Bernardo



Bernardo Bertolucci, um dos maiores realizadores italianos e do panorama cinematográfico internacional, para alguns, mais famoso pelo inolvidável e polémico filme de 1972, "Último Tango em Paris", com Marlon Brando e Maria Schneider, faleceu hoje aos 77 anos de idade.

Os media deram conta do sucedido sem grande destaque, como se a sua morte não tivesse o mérito suficiente para ser notícia.

Desapareceu hoje um dos maiores diretores cinematográficos de sempre, realizador de filmes como: "O Último Tango em Paris"; "O Conformista"; "O Último Imperador"; "Novecento"; "Um Chá no Deserto", "O Pequeno Buda", só para citar os que me vêm à memória.

Devo-lhe muitas alegrias, porque os seus filmes ajudaram a construir o meu imaginário e tenho a certeza que pairam no forro da minha imaginação.

Ganhador de dois óscares com a película "O Último Imperador", Bertolucci recebeu ainda numerosos prémios e nomeações, atribuídos pelas mais altas instâncias ligadas à sétima arte. Era uma das figuras mais respeitadas no mundo do cinema de autor - descartado o "trash cinema" e a vertente comercial, para gáudio dos simple mind.

A cultura artística sempre foi tratada com desdém (coisa das elites) mas, pior do que isso, é cada vez maior a tendência para incluir nela formas bárbaras e cruéis de diversão, bem como entretenimentos primários e de fraco gosto. Não nos pasmemos se qualquer dia o futebol também for considerado uma arte. Quem sabe, a oitava arte, já que a sétima, felizmente, está tomada e é nossa.

Descanse em paz, Bernardo Bertolucci

sexta-feira, 16 de novembro de 2018

Contra as touradas



Há mais de 2000 anos, morriam, vítimas de formas criativas, nas mãos de gladiadores ou nas garras de animais, toda uma sorte de pessoas. Esses sacrificados podiam ser ladrões, soldados desertores, escravos ou, apenas, cristãos.

Ser condenado à morte, devorado por animais em coliseus, tinha até nome: damnatio ad bestias e ao longo de três séculos, desde a origem do cristianismo até a fé se tornar a religião oficial do império romano, esta prática perdurou.

Hoje, volvidos dois milénios, certos povos, que se afirmam pertencentes ao primeiro mundo civilizacional, para gáudio de uma multidão sádica, que regozija com gritos e incitamentos, tudo sob um pano de fundo musical - a música do suplício e da morte - , praticam a tortura e a morte em animais em arenas de coliseus (as chamadas praças de toiros - decalcadas dos antigos coliseus romanos); e chamam-lhes "espetáculos culturais".

A mutilação genital feminina também é considerada uma tradição em muitos povos e nem por isso não a repudiámos, criminalizámos e julgámos menos bárbara. Perante a tradição e o repúdio visceral pela tortura e morte dos animais, dois direitos em conflito, devemos seguir a regra do Direito mais forte como forma natural de superar a clivagem. Não há dúvidas de que a tourada é uma exceção bizarra a todas as leis e princípios pelos quais nos regemos e pautamos.

Acredito que é uma questão de tempo até que a existência das touradas seja uma mácula vergonhosa que assombrará as gerações presentes e vindouras que, perplexas, se interrogarão: como foi possível eles terem feito isto?!

sexta-feira, 9 de novembro de 2018

Novembro apagou nas buganvílias
seus nomes brancos, roxos,
escarlates.
É mais difícil regressar a casa:
... o caminho disfarçou, emudeceu o
seu rosto nos muros e nas grades.
- Por onde seguiremos
sem que o outono espesso nos
trespasse?