sábado, 25 de novembro de 2017

Geração do não desenrasca




Jamais empregaria a expressão "geração rasca", usada pelo jornalista Vicente Jorge Silva em 1994, num editorial do jornal Público, aquando das manifestações estudantis, para caracterizar a passividade de alguns jovens dos nossos dias, em relação às dificuldades da vida, pois acho-a ofensiva, manifestamente exagerada e, sobretudo, redutora. Eu próprio lido frequentemente, com jovens bastante empreendedores e responsáveis, gente que tem projetos e luta por eles.

No entanto, não há dúvidas de que, na sociedade portuguesa, uma fatia considerável dos adolescentes e recém adultos, cultivam a dependência em relação aos pais, o gosto pela futilidade e pelo facilitismo, os ténis e a roupa de marca, os smart phones, Ipads e restante parafrenália. Escolhem, sem hesitações, os consumíveis, que não precisam ser mastigados pelo cérebro e pelo senso crítico, com que a selvajaria do marketing, sabendo antemão das suas vulnerabilidades, os bombardeia.

É comum os jovens de hoje em dia dizerem: "não tenho nenhum trabalho, pois não consigo encontrar um que me satisfaça".

Nos meus tempos de juventude, o sonho de qualquer jovem adulto era o de ter uma ocupação profissional, fosse ela qual fosse, tornar-se independente dos pais, viajar, comprar um automóvel usado, frequentar o ensino superior, se necessário fosse, na qualidade de estudante-trabalhador, encontrar rapidamente o seu espaço, fosse arrendando uma casa a meias com amigos/as, ou, nalguns casos, comprando.

Hoje, há uma franja, felizmente marginal, de jovens que se escudam na "crise", nas "dificuldades da vida", na preguiça eterna, esquecendo que a vida é uma luta constante que começa na base da pirâmide social e jamais termina. E, com a crueldade que lhe está associada, os que ficam parados na corrente ascendente, os que nada fazem, são rapidamente ultrapassados e cilindrados pelos que vêm atrás. Desistir é perder na secretaria.

É aos pais super protetores, eles mesmos maus exemplos, ou negligentes com o comodismo galopante dos filhos, que deve ser assacada a maior responsabilidade por esta faixa marginal de jovens inertes, sem hábitos de luta ou sacrifício, que julgam que o mero facto de terem tirado um curso superior lhes garante o acesso imediato a um patamar profissional superior.

Todo o trabalho é honrado e em bastantes países por esse mundo fora, é comum os "doutores" trabalharem em ocupações menos qualificadas; isto até conseguirem, sempre com a sua luta e engenho, uma ocupação adequada às suas qualificações.

Nunca mais me esqueço da frase premonitória proferida por um professor que tive no ensino secundário, em relação às graçolas dos "engraçadinhos de serviço" da sala de aula: " Não gozes com os «caixas de óculos»" a quem chamas «marrões» e ocupam sempre os lugares na fila da frente, pois muito provavelmente vais encontrá-los como teus chefes na vida profissional futura".