segunda-feira, 20 de abril de 2020

Iliteracias



As redes sociais foram um fenómeno que nos permitiu ter acesso a conteúdos que, de outra forma, seriam muito difíceis de ter conhecimento. Mas a verdade é que muitas pessoas não estão ‘educadas’ para saberem estar na Internet no geral e nas redes sociais em particular.

Em declarações feitas no decorrer de um evento no qual Umberto Eco recebeu o título de doutor honoris causa em comunicação e cultura, na Universidade de Turim, o escritor italiano de renome, também conhecido por criticar o papel das novas tecnologias no processo de disseminação de informação, é da opinião que as redes sociais dão o direito à palavra a uma “legião de imbecis” que, antes destas plataformas, apenas falavam nos bares, depois de uma taça de vinho, sem prejudicar a coletividade.

Segundo Umberto Eco: “Normalmente, eles (os imbecis) eram imediatamente calados, mas agora têm o mesmo direito à palavra que um Prémio Nobel”.

Acho profundamente antidemocrático o pensamento do reputado escritor, uma vez que deixa no ar a insinuação de que o acesso ao espaço cibernético deveria ser restrito a elites. Tal é de todo intolerável. O acesso universal à comunicação é um beneficio do qual ninguém pode ser excluído, ainda que daí possam advir efeitos perversos, tais como as fake news e outras formas de contra informação, nas quais a disseminação da ignorância se insere.

Mas, em contrapartida, vivendo nós na era da comunicação, acessível a qualquer um, já não servem as desculpas de que a educação é privilégio dos afortunados e que o analfabetismo é a má sorte de uns tantos. Se no passado tal desculpa servia nos ajustes, face às paupérrimas condições de vida de uma parte substancial da população, hoje só é iletrado e ignorante quem, por escolha própria, valora outras realidades que não o enriquecimento educacional.

Das escolhas que fazemos na vida, somos inteiramente responsáveis e temos de aceitar a consequência disso mesmo.

É triste constar que imensos adultos jovens, com idades próximas dos 30 anos, vivem numa realidade onde a completa iliteracia e o desconhecimento de quaisquer factos que não estejam conectados com o universo futebolístico, as novelas, as músicas rap, os telemóveis, as novíssimas unhas de gel, e quejandos, é o único integrante do seu quotidiano.