segunda-feira, 29 de novembro de 2021

Ómicron? Chamem o Jack Estirpador!



O Instituto Ricardo Jorge revelou esta segunda-feira que já foram confirmados 13 casos da variante Ómicron em Portugal, em jogadores do Belenenses SAD. Mas o virologista Pedro Simas considera que, dada a elevada taxa de vacinação contra a covid-19 em território nacional, o país está numa situação endémica e não pandémica, pelo que a nova variante não será um problema para o país. O especialista acrescenta que, com o passar do tempo, vão sempre surgir novas estirpes do SARS-CoV-2.

Monsieur de La Palice não teria dito melhor.

A propósito da virulência nos tempos que correm, há especialistas demasiado optimistas, como é o caso do Doutor Simas, outros demasiado pessimistas e ainda os moderados ou prudentes nas afirmações. Para compor o ramalhete, ainda temos comentadores televisivos, sem qualquer preparação sobre o assunto, que todos os dias, em horário nobre, bolsam opiniões e ditam sentenças sobre o estado da coisa.

A Direção Geral de Saúde, agora mais prudente e ajustada, não fora pelo menos isso ter aprendido, já não afirma algo e passados momentos o seu contrário.

Assertivo, ou ajustado, como se prefira o epíteto, seria, outrossim, investigar, constatar e somente depois informar com certeza cientifica a população.
 
Mas acontece que a sede de informar, a necessidade de noticiar, com toda a tramóia de interesses económicos que lhes subjazem, é mais forte do que a verdade e o rigor, que nestes tempos sombrios seriam desejáveis para maior conforto das populações.

Sobre a variante Ómicron, segundo li, a única coisa que realmente se sabe é que é mais virulenta que as demais, mas não necessariamente mais letal, nem tão pouco se sabe se as atuais vacinas são ineficazes perante a nova estirpe. Sejamos prudentes, sim, mas sem perder o tino e entrar em irrealidades.

Todos os anos as vacinas gripais são ajustadas por causa das cambiantes do vírus. Provavelmente vamos conviver com o Covid – recordam o nome de algum vírus ou bactéria que se tenha extinguido totalmente no planeta? – para sempre, torná-lo menos letal, como parte do leque de doenças potencialmente mortais que abreviam a nossa existência.

Quase dá vontade de chamar o Jack Estirpador para nos livrar destas estirpes infinitas, mas afinal vamos todos morrer de alguma coisa. 



quinta-feira, 25 de novembro de 2021

Dia Internacional pela Eliminação da Violência contra as Mulheres



Hoje assinala-se o Dia Internacional pela Eliminação da Violência contra as Mulheres. Na verdade, todos os dias são comemorativos de alguma coisa e, na falta de um calendário maior, celebram-se vários factos relevantes no mesmo dia; alguns certamente mais importantes e justificáveis do que outros.
 
Não deixa de ser triste constatar que, infelizmente, a violência contra as mulheres, seja no seio conjugal, ou numa relação de namoro, apesar de uma assinalável evolução das mentalidades, proporcionada pela educação e por uma sociedade mais informada, continua a existir.

É, no entanto, sinistro constatar que a violência cometida contra as mulheres acontece quer entre jovens e/ou seniores, sejam pouco ou muito escolarizados, não poupando, na sua transversalidade, qualquer camada sociocultural.
 
Recordo a rocambolesca história de um médico, digno de um remake da novela gótica Jekyll e Mr. Hyde, escrita por Robert Louis Stevenson, figura de proa nos meandros sociais de uma pequena cidade, onde se emproava em cargos políticos ao mesmo tempo que praticava medicina, que sovava a mulher a ponto de um dia lhe ter partido ambos os braços. Esse sociopata, querido e endeusado pela população, figurão mestre em manipulação e embuste, chegava a dar consultas grátis como forma de se promover, com vista a atingir os seus propósitos de ambição pessoal.

O mito da “família idealizada” levou-nos a pensá-la como um lugar de afetos e de expressividade íntima, onde ninguém tinha o direito de interferir: “Entre o marido e a mulher ninguém mete a colher”. Esta idealização associada a outros mitos foi, em parte, responsável pela negligência da gravidade do fenómeno da violência exercida contra as mulheres, considerando-a, muitas vezes, como uma componente normal num relacionamento conjugal.

As nossas sociedades estão repletas de inarráveis crueldades cometidas contra as mulheres e outros membros da família. No nosso país, apesar de se supor que é um fenómeno que afeta inúmeras famílias, só recentemente é que foi colocada de forma evidente na agenda política nacional.
 
Há coisas que, apesar de já contar com seis décadas de existência, ainda me deixam perplexo. Como é possível um homem agredir fisicamente, ou psicologicamente, uma mulher, ainda que um facto grave, que justifique colocar um ponto final num relacionamento, tenha acontecido?
 
As relações amorosas devem subsistir enquanto são motivo de felicidade para ambos os intervenientes e a coragem de as terminar, quando a sua manutenção já não é desejável, não é desonra para ninguém. Assertivamente é mesmo o que se deve fazer, pois o tempo tudo sara.

Ao findarmos um relacionamento tóxico estamos dar, a nós mesmos e ao outro, a oportunidade de um reencontro com a tão desejável paz perdida. Ainda que a encontremos apenas dentro de nós mesmos.



terça-feira, 23 de novembro de 2021

Aniki Bobone

Paula Bobone, em 2017, voltou a lançar um novo livro, "Domesticália". Desta vez, o objetivo é ensinar os empregados a receber, servir e tratar os patrões com bons modos. Bobone defende a importância dos empregados, dizendo que através destes “conhecem-se os patrões”. Se não fosse verdade, eu próprio poderia ter inventado algo do género como piada, mas o humor perde-se na tristeza de uma certeza: existem efetivamente pessoas assim tão grotescas; e, pior do que isso, têm uma corte fiel de admiradores, espaço de antena e gentios que almejam ser como elas - estes proto-seres.




domingo, 21 de novembro de 2021

Maus tratos aos animais



Não é preciso ser psicólogo forense para saber, com fonte em leituras comuns, que existe uma forte conexão entre a psicopatia e a crueldade contra os animais. As pessoas que os maltratam, com uma insensibilidade imensa e desejos de diversão, entre outras perversões, são psicopatas, pese embora (ainda) não diagnosticados e sem rótulo formal.

O perfil psicológico de um agressor de animais está, regra geral, ligado a alguma doença psicológica, já que, como todos sabemos, as patologias afetam gravemente a capacidade de sentir e racionalizar, podendo surgir alguns transtornos de personalidade que induzam o maltrato aos animais.

O psicopata é uma pessoa que tem muitas dificuldades para entender o sofrimento dos demais e, se um ato violento contra outro lhe proporcionar algum tipo de benefício (por exemplo: aliviar o stress de um dia frustrante batendo num animal), ele não pensará duas vezes antes de fazê-lo. É por isso que muitos psicopatas maltratam animais.

É importante estar atento às crianças que maltratam os animais ou os seus pets, pois esta atitude pode induzir a outros tipos de comportamento agressivo. Uma criança que maltrata animais deve visitar um psicólogo, pois podem existir outros fatores que estão certamente provocando este comportamento. É fundamental identificá-los para evitar condutas de agressão que possam colocar a vida dos animais em risco.

Estas crianças, infelizmente, não interiorizaram conceitos de condutividade elementar como o respeito ao semelhante e aos animais. Regra geral, o tratamento com sucesso da psicopatia, com perturbação da personalidade é, na maioria das vezes, infrutífero. 

Estes jovens vão engrossar a mancha dos futuros adultos que se alistam em forças especiais para terem oportunidade de “legalmente” espancar alguém; vão adotar cães perigosos e treiná-los para combater e matar; vão procurar empregos como seguranças de discotecas, cobranças difíceis, organizações extremistas e congéneres, para cultivarem a violência como opção de vida e expandir as suas tendências; vão ser amantes de trash metal e idolatrar artistas ou músicos que apelem a qualquer forma de violência.

São pessoas agressivas com uma tendência natural a responder com violência aos estímulos que os rodeiam, impulsivos, desprovidos de inteligência emocional, com necessidade de sentir poder como forma de compensação para o limbo de frustração em que vivem mergulhados, profundamente egoístas e desafiadores, que procuram desesperadamente uma identificação ou modelo de ser escolhendo as piores opções de vida.

Este “lixo comunitário” convive paredes meias connosco e está bem identificado no tecido social. E certamente qualquer um de nós conhece um ou mais cromos que se aparentam com esta subespécie humana. Temos de estar mais atentos.



segunda-feira, 8 de novembro de 2021

Dentro de nós



Por vezes temos uma ideia na cabeça que queremos desenvolver através da escrita. Pode ser um pensamento que surgiu à hora do almoço, depois da jornada de trabalho, ou algo que anda a ruminar há algum tempo na nossa mente; mas chegada a hora de escrever, outra coisa diferente, ambígua, até, jorra-nos dos dedos.

Começamos a escrever e a nossa mente divaga, já que a nossa existência é feita de um contínuo de pequenos acontecimentos, a maioria sem grande importância nem impacto. De vez em quando, muito de vez em quando, o fluir dos dias agiganta-se, abrilhanta-se e, então, dizemos que aconteceu algo de especial e guardamos datas na memória, sentimentos quentes e ternos ou assustados e infelizes algures dentro de nós.

Alguns encaram com leveza os dias que correm. Lembram-se dos tempos da infância e sorriem condescendentes com o que foram. Partilham com os amigos histórias improváveis, exageradas, cheias de feitos e de graças e divertem-se com isso. Olham para sonhos que não se cumpriram e objectivos que não se alcançaram e o coração não se aperta nem descem véus de angústia ou derrota.

Para outros, o passado, o futuro e, sobretudo, o presente desgastam. Há uma queixa fina e virulenta, uma espécie de lamuria, que se torna numa inquietação permanente e sem objeto que corrói, que transforma todos os momentos em tempo perdido, como se a felicidade e a vida estivessem sempre noutro lugar.

Viver pachorrento ou inquieto, tranquilo ou perturbado, não é bem uma opção. Em cima de um temperamento que nos calha em sina, acumulam-se experiências e formas de lidar com o que nos acontece, que nos transforma exactamente no que somos: nós mesmos, únicos, diferentes, extraordinários por isso. Somos quem somos, por acaso e sem escolha, já que não nos soubemos fazer de outra maneira. O que nos afirma como únicos é, no entanto, a nossa forma particular de dizer não e, a partir daí, reconstruir-mos o (nosso) mundo - se é que ainda vamos a tempo. Temos de fazer um esforço, sermos pro-ativos, e não estarmos sempre à espera de uma melhoria das contingências exteriores para fazermos algo por nós. Mas tudo isto, depois de escrito, soa a receita fácil, já que é impossível fazer a nossa vida retornar à pureza dúctil de uma página em branco. E, uma vez mais, como se vê, para o escritor é mais fácil prescrever soluções generalistas (para os outros) do que as considerar para si mesmo.


sexta-feira, 5 de novembro de 2021

Das injustiças


Passo a publicidade, pois não tenho qualquer intuito comercial na divulgação do cardápio de determinado restaurante, uma vez que frequento vários e sem distinção, mas, a título de exemplo, veja-se: Em 2016, em Pisa, Itália, à conversa com um casal nativo da cidade, disse-lhes que em Portugal era possível comer uma refeição completa de prato do dia (prato, café e bebida) por 7 euros e 50 cêntimos. Eles ficaram incrédulos e pediram-me para repetir o que afirmara, não fosse eu estar equivocado ou a expressar-me mal no meu italiano enviesado. Ficaram incrédulos com a minha reafirmação, pois esse era, à data, o preço de um pannini em Itália. Finda a conversa, disseram-me que ainda nesse mesmo ano viriam de férias a Portugal, para aproveitar as maravilhas dos baixos preços e a beleza do nosso país. Nunca mais soube deles, nem tão pouco imagino se efetivamente vieram à nossa terra.

Repare-se que estamos em 2021 e o nosso prato do dia, segundo creio, não mudou de preço desde então, ou, se tal aconteceu, foi um ajuste mínimo. Quando falamos dos baixos salários - efetivamente são injustificadamente baixos - temos de nos ater ao custo de vida em cada país, pois caso contrário estaremos a fazer um juízo erróneo sobre a relação rendimento/preços.

De uma coisa tenho absoluta certeza. Vive-se amplamente melhor com um salário médio em Portugal do que na maioria dos países europeus que conheço. A exceção acontece na Bulgária, Roménia, Polónia e pouco mais. Na maioria dos países da União Europeia, os custos dos serviços, transportes e habitação, são exorbitantes comparados com os praticados por cá. E as substancialidades, o que verdadeiramente conta, são amplamente mais caras.

Isto não é contraditório com a prática reiterada e indesculpável de uma politica de baixos salários em Portugal, mormente do salário mínimo nacional, para não falar das pensões, subsídios e apoios sociais (há muitas pessoas para quem essa é a única fonte de rendimento), todos eles completamente insuficientes para alguém ter uma vida condigna: casa, habitação, comida e cuidados de saúde primários, alguns dos mais elementares direitos previstos na nossa Constituição.

Será que os empregadores não entendem que, ao pagarem melhores salários, têm funcionários mais motivados, logo mais produtivos e que gastam mais dinheiro, cujos consumos vão fazer crescer todos os sectores da economia? Não, a ganância e a sofreguidão do lucro não os deixa ver/pensar desse modo.

Infelizmente, a fila de desempregados é enorme, os imigrantes estão dispostos a trabalhar por qualquer salário (o que querem é um contrato para conseguirem ter um título de residência) e aceitam condições laborais por vezes inumanas. Os empregadores, desprovidos de escrupulosidades, vêm para a comunicação social fazer queixinhas de que não conseguem encontrar massa laboral e vão ter de recorrer aos imigrantes. Leia-se: Não estão dispostos a pagar salários justos, pois não querem reduzir os seus lucros e, como tal, com lágrimas de crocodilo nos olhos, dizem ter de recorrer aos imigrantes porque a maltinha portuga não quer vergar a mola.

É por estas e por outras que muitas vezes dou razão a algumas lutas dos comunistas. Só é possível combater a desigualdade, a injustiça, mudando o paradigma social, mas tudo feito com equilíbrio e sensatez. Efetivamente todos, sem exceção, devem pagar o seu contributo à sociedade pelos bens que recebem dela. Não acho admissível que alguém parasite à custa dos impostos do trabalho alheio, mas também não é de todo aceitável que um cidadão não tenha um rendimento mensal que lhe possibilite viver com dignidade. Como em tudo, é na justa proporção e no equilíbrio, que reside a razão das coisas.

Pode ser uma imagem de texto que diz "café restaurante estádio EMENTA TAKE-AWAY SOPA €2.50 €2 1.Prato do dia ofth day) 2.Bife Casa (.s +chips +fried egg rice) .Bitoque (Grilled chips fried eeg) 4.Febras €7.50 €7.50 €7.50 chips rice) 5.0melete Simples €7.50 6.0melete com Queijo ou com Fiambre €7.50 cheese Queijo ham) €7.50 Fiambre €7.50 Brás potatoes egga) eg 9.Alheira €7.50 Mirandela €7.50 ACOMPANHAMENTOS CAIXA PEQUENA Arrozbranco 2.60"
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terça-feira, 2 de novembro de 2021

Os serviçais

 

Vivemos num mundo em que a afirmação individual dos sujeitos se faz pelo que têm. Não basta ser inteligente, bonito, elegante, simpático, charmoso, espirituoso, culto, desembaraçado, pleno de sentido de humor, divertido, ou tudo isso em doses massivas. Espera-se que essas habilidades, esses "skills", ou características, rendam, dêem frutos e sejam significados pelo meio envolvente como adquiridos de mais-valia.

A velha discussão sobre a dicotomia entre o ser e o ter parece, pelo menos por agora, resolvida de uma forma expedita: o ter está ao serviço do ser e o ser é uma abstração monumental a que muitos poucos têm acesso. Valorizam-se os sinais exteriores e o que serve de moeda de troca numa rede complicada de significações: dinheiro, um título nobiliárquico, académico, um cargo importante, um nome sonante.

Não ter é o mesmo que não ser. Logo não ter qualquer coisa com jeito, qualquer coisa que os outros reconheçam e avaliem como boa ou desejável, é a desclassificação suprema. É assim que casar com uma determinada mulher ou homem com características selecionadas é uma aquisição de estatuto. E o problema desta expansão possidente não está na aquisição mas na perda.

Ninguém gosta de perder o que quer que seja. E perder pessoas que, para lá do seu valor intrínseco, sejam um leit motiv para a razão da existência, é, para alguns imbecis, igual a perder os sinais exteriores de uma qualquer riqueza que julgavam possuir.

Como é difícil admitir que o sentimento de posse em relação a pessoas seja dominante e mais difícil ainda assumir que se quer alguém mais pelo que ela significa do que pelo que ela é, confundem-se a amizade e o amor com outras valências quaisquer que nada têm a ver com a nobreza desses sentimentos.

E foi por este motivo, e por outros, que neste final de tarde, dominado por uma persistente má disposição, saí da farmácia próxima à minha casa sem aviar o medicamento que carecia, só porque o funcionário - um tinhoso serviçal de Doutores, Engenheiros, gente importante e afins - descuidou o atendimento de uma velhinha que, coitada, mal se conseguia expressar, só porque entrou no estabelecimento, imagine-se?! Um Doutor! Uma pessoa de título, um médico, a quem ele de imediato fez uma vénia, gesto que lhe acentuou ainda mais a sua pronunciada escoliose - uma doença crónica e progressiva tão comum em todos os serviçais que atingem o Nirvana cada vez que beijam o chão que os aludidos finórios pisam. P. que o pariu! - pensei, mas, claro, nada disse. Limitei-me a sair sem o medicamento que precisava e ainda mais nauseado do que quando entrei.