segunda-feira, 10 de outubro de 2016

Sobre uma escolha vital




Recentemente li um magnífico ensaio da Maria Filomena Mónica intitulado "A Morte", numa edição da Fundação Francisco Manuel dos Santos, em que a autora disserta brilhantemente sobre muitas das polémicas que envolvem esse fenómeno biológico inevitável.

Um tema que a muitos de nós causa alergia, sequer, pensar, quanto mais abordar o assunto. Mas a propósito da eutanásia e do suicídio assistido, que, como todos sabemos, são realidades distintas, relembrei um lindíssimo filme, magistralmente interpretado por Javier Bardem, "Mar Adentro", inspirado na história verídica de Ramón Sampedro, que ficou tetraplégico após um mergulho no mar, aos vinte e cinco anos de idade.

Ao longo de três décadas, Ramón lutou pelo que julgava um direito seu, o suicídio assistido, pois, apesar de totalmente paralisado da cabeça para baixo, estava lúcido e conseguia comunicar, pelo que, mesmo contra a vontade da família, decidiu prosseguir a luta, até que em 1998 apareceu morto na cama. Na verdade, engolira em pequenas doses, um líquido onde alguém dissolvera cianeto de potássio e a polícia desconfiou de uma amiga, Ramona Maneiro, que viria a ser presa. Mas, uma vez que nada foi conseguido provar contra ela, foi solta. Uma vez prescrito o crime, sete anos depois, Ramona confessou publicamente ter sido ela quem ajudou Ramón a morrer, acrescentando que o fizera por amor.

Uma vez por outra, os temas da eutanásia e do suicídio assistido enchem uma página de jornal, mas nunca nenhum partido político teve a ousadia de fazer propostas legislativas sobre o assunto. Num país habituado à hipocrisia e ferozmente dominado pela mentalidade católica, as únicas vozes sonantes são as dos que criticam ferozmente aquilo que já é admitido há muitos anos na Bélgica, na Dinamarca, na Holanda e na Suíça, onde, aliás, em Zurique a clínica "Dignitas" pratica o suicídio assistido - somente para doentes terminais ricos, claro.

A noção da santidade da vida é um ideal civilizado, todos o sabemos, mas, perante a vontade esclarecida de um doente terminal, em sofrimento atroz, com uma degradação física sem retrocesso possível, que direito tem a Igreja Católica de opinar e influenciar toda uma sociedade, no sentido de impedir a vontade de alguém abreviar a sua vida de uma forma digna? Se amanhã um médico me disser que sofro de uma doença incurável, que vou sofrer imenso, que não há cura possível, será que tenho de me sujeitar aos cuidados paliativos contra a minha vontade? Ser ligado a um ventilador e viver com morfina e soro, como se fosse um ratinho branco de laboratório, ou não deveria eu, se completamente esclarecido e mentalmente capaz de decidir sobre o meu destino, poder opinar sobre se queria continuar a viver dessa forma ou abreviar um sofrimento inevitável?


Será que alguma vez teremos coragem de encetar este debate?


Ao que parece, em países mentalmente muito além da nossa mesquinhez - continuamos a sofrer a atrofia da Igreja Católica que, mesmo perante a presença de doenças infetocontagiosas mortais, nega o uso do preservativo e opõe-se ao aborto, inclusive em caso de violação da mulher, quanto mais nestas questões! - Estes assuntos estão há muito debatidos pela sociedade e devidamente legislados.

Não defendo os "doutores da morte", nada disso. Apenas acho que, em situações limite, deveria poder caber ao doente, ou à família mais próxima, caso este já não possa decidir, a escolha entre antecipar o seu final ou padecer tormentos inevitáveis.

Devia existir um "testamento vital", um instrumento jurídico apto a podermos, desde já, fazer as nossas escolhas sobre tais assuntos, isto enquanto estamos lúcidos, sãos e com capacidade de decidir, sobre qual a atitude que desejaríamos que fosse tomada quanto a nós numa dessas situações. 





quinta-feira, 6 de outubro de 2016

O Síndrome de Estocolmo




(Stockholmssyndromet em sueco) é o nome comummente dado a um estado psicológico particular em que uma pessoa, submetida há um tempo prolongado de intimidação, passa a ter simpatia e até mesmo sentimento de amor ou amizade perante o seu agressor.
Apesar do termo ser vastamente utilizado por leigos, a Síndrome de Estocolmo não consta entre as patologias psiquiátricas listadas no DSM (catálogo das doenças psiquiátricas), havendo ainda poucas publicações científicas sobre o tema. Nesse cenário, alguns especialistas preferem tratar a pretendida síndrome como um "mito urbano", afirmando não haver base empírica suficiente e uniforme para classificá-la como um distúrbio da mente enquanto tal.
Acontece que, por mais do que evidente, conheço algumas pessoas sofrendo deste síndrome, parente bastante próximo do masoquismo...