quinta-feira, 28 de setembro de 2023

Como é que o teu pai se chama?



Efeméride

- Como é que o teu pai se chama? Importas-te de repetir?

Carlos Fernando Luís Maria Victor Miguel Rafael Gabriel Gonzaga Xavier Francisco de Assis José Simão de Bragança Sabóia Bourbon e Saxe-Coburgo-Gota, foi o penúltimo Rei de Portugal. Nasceu em Lisboa, no Palácio da Ajuda, a 28 de Setembro de 1863, e morreu na mesma cidade, no Terreiro do Paço, a 1 de Fevereiro de 1908.

O nosso penúltimo rei não morreu de morte natural, foi chumbado pelo Manuel Buíça e outro comparsa, quando seguia numa caleche aberta no Terreiro do Paço, no regresso de Vila Viçosa. O regicídio encontra-se assinalado numa placa discreta no local onde aconteceu o atentado.

O monarca D. Carlos tinha um nome do tamanho do comboio de Chelas, pelo mesmo motivo contrário que eu somente tenho dois nomes próprios e dois apelidos. As pessoas de sangue azul, aparentadas com a nobreza, têm imensos nomes porque são o resultado dos muitos cruzamentos com gente de linhagem com vista a apurar o pedigree. O pior de tudo são os barrabotas, que não têm onde cair mortos, mas apresentam-se forrados de catrefadas de títulos, apelidos e nomes sonantes.

Tratar o nosso filho por menino ou por você é superlativar às últimas consequenciais a presunção de que se é nobre e diferenciado da arraia miúda. As nossas tias de Cascais e as socialites são eximias nisso. Mas aqui pela cidade do Lis também conheci uma fulana que, além de flibusteira, mentirosa e intriguista, arrogava-se ser Condessa da Marinha Grande e doutoranda, sem nunca ter metido os pés numa Universidade. O ridículo, infelizmente, nunca conheceu limites, nem tampouco a noção, pelo próprio, do mesmo.



quarta-feira, 27 de setembro de 2023

Baleia Azul



A baleia azul, como todos sabemos, é um mamífero marinho e o maior animal que habita o planeta, podendo pesar mais de 300 toneladas e atingir os 30 metros de comprimento. Acontece que há cerca de uma década, ao que parece, numa rede social russa, nasceu uma espécie de jogo, extremamente perigoso e idiota, associado normalmente a adolescentes, a que se deu o nome de “Baleia Azul” e que nada tem a ver com o referido mamífero aquático. A brincadeira implica uma série de desafios muitas vezes perigosos com consequências potencialmente fatais, entre os quais automutilação. O jogo já terá provocado, um pouco por todo o mundo, mas principalmente na Rússia e no Brasil, dezenas de mortes.

Os participantes no jogo são, regra geral, recrutados entre adolescentes com problemas de autoestima, comportamentos autolesivos, depressão ou isolamento. Quanto mais frágeis, mais aptos a entrarem neste jogo perigoso, que os incita à automutilação e ao suicídio.

Apesar de ter pouca adesão em Portugal, também por cá deixou marcas. Segundo li, são cada vez mais os rapazes e as raparigas que chegam às urgências hospitalares com o corpo cortado com navalhas, facas, lâminas e x-atos.

Normalmente são casos de miúdos em grande sofrimento psicológico, a atravessar períodos de depressão e tristeza que os fragiliza e transforma em alvos fáceis para jogos do mesmo género.
No passado domingo, um homem de 35 anos de nacionalidade britânica foi encontrado morto, com marcas de esfaqueamento, no meio da floresta de Pedrógão Grande, no distrito de Leiria. O suspeito, de 32 anos, entregou-se à Guarda Nacional Republicana e revelou que o crime ocorreu na sequência de um jogo das redes sociais, conhecido como “Baleia Azul”.

Pelos vistos, também os adultos são vitimizados por este jogo hediondo e completamente insano, o que nos leva a questionar: como é possível influenciar pessoas a este ponto?



Guerra



Em tempo de guerra - it's an old saying, como dizem os ingleses - enquanto uns choram os outros fabricam os lenços. São os comentaristas de serviço e os de ocasião, que ganham fortunas por bolsarem opiniões e adivinhações nas várias estações televisivas; são as empresas de energia que têm lucros fabulosos por conta da subida dos preços; é o governo que obtém uma receita fiscal com resultados inesperados e sem precedentes; é a industria de armamento e, de um modo geral, todas as empresas ligadas à produção conectada com a guerra que arrecada lucros gigantescos; são as empresas fornecedoras de bens alimentares, com grandes stocks comprados a preços baixos, que têm lucros imensos ao venderem os seus produtos a preços inflacionados. Se demorasse mais tempo a refletir, certamente que me recordaria de outras pessoas que obtêm vantagens com o atual conflito. A guerra sempre foi uma grande oportunidade de negócio.

No final de tudo isto, quem sofre, quem se lixa, em português vernáculo e por todos entendível, é sempre o consumidor final, aqueles que não podem fazer repercutir os aumentos dos preços em ninguém; os que estão na base da pirâmide social, com especial enfoque para os mais desfavorecidos, economicamente tornados ainda mais vulneráveis face todos estes acontecimentos.

Não tarda, virá o incumprimento das prestações bancárias, as famílias que perdem as suas casas, a fome, o desespero, o rasgar de uma parte do tecido social. O mundo de 2022 ficará na História como um ano infame.

Inevitavelmente, muitas vezes é preciso fazer a guerra para conquistar a paz. E sempre assim foi ao longo dos séculos. O contrário disso, a submissão, a aceitação da chantagem, resultaria numa situação muito pior. O mundo democrático, livre, com todos os defeitos que tem, que ainda assim é o melhor modelo societário que conheço, deixaria de existir. O estranho é que a grande maioria das pessoas com quem falo, está mais interessada nos resultados desportivos, nas realidades comezinhas do dia-a-dia, porque acha que ver noticias sobre a guerra é depressivo e indispõe. Não é pelo facto de nos tentarmos alhear dos problemas que eles desaparecem e sendo um facto que nenhum de nós tem uma solução mágica para remediar o que está a acontecer, nada justifica a alienação da realidade.

Fosse eu substancialmente mais novo, e quem bem me conhece sabe que não faço afirmações vãs, estaria provavelmente na Ucrânia a defender a Democracia e os valores em que acredito e baseio a minha vida.

2022




2022

domingo, 24 de setembro de 2023

A F da FDL



Estando eu numa clínica privada cá do burgo, aguardando consulta, eis que reencontro a F., magistrada judicial na cidade, antiga colega da FDL, desde sempre moradora na cidade do Lis. Depois das perguntas triviais - só nos encontramos de tempos a tempos e sempre por casualidade -, contou-me, com os olhos marejados de lágrimas, que tem o filho de 16 anos com graves problemas no estômago e o seu marido, com 56 anos de idade, acabou de remover o dito órgão, face a um cancro maligno que entretanto lhe surgiu.

À F., sempre lhe conheci um temperamento forte e resiliência - sei que apesar de estudar à noite na Faculdade, trabalhar e morar a mais de 150 kms de distância, nunca pensou desistir do curso, do trabalho ou do namoro ( que na época já mantinha com o agora marido e pai dos seus filhos). No entanto, nunca a tinha visto tão fragilizada e esfrangalhada dos nervos. Tudo isto, acontecido em pouco tempo, deitou-a abaixo.

Despedi-me da F., falámos apenas alguns minutos e, no caminho de regresso a casa, não pude deixar de pensar sobre o quão frágeis somos. O que hoje é, num instante deixa de ser. Não há certezas absolutas, planos e vidas que não possam desmoronar em pouco tempo. Face às circunstâncias da sorte, ou da falta dela, a nossa vida pode cambiar num instante e ninguém está realmente preparado.