O verão está à porta. E escrevo o vocábulo propositadamente em letras minúsculas, independentemente de ter a certeza de que o mesmo, segundo o novo acordo ortográfico, perdeu a dignidade maiúscula dos substantivos pomposos. Mas, confiando no Google, o Eu Sei Tudo do século XXI, presumo que assim seja. Em todo o caso, este sol-de-inverno que nos visita, não tem a substância que dele se esperava, nem merece um tratamento díspar em relação aos vocábulos mais ordinários da nossa tão maltratada língua pátria. É o vestíbulo de um verão polissémico, uma estação que ainda não se vê, aparentado com formas verbais que anunciam futuros, a vã promessa de que todos o verão. O verão?
Sinais de que o estio paulatinamente se aproxima, outro vocábulo sem dignidade maiúscula, é o surgimento nas passadeiras do ginásio que frequento, de bundas celulóticas que, a escassos meses de se exporem no areal da praia, já se agitam num frenesim infinito, na esperança de verem esmagadas impúdicas gorduras.
São tentativas frustres, pois a moldagem do corpo, a perda de gordura e a sua transformação em músculo e massa corporal, exige trabalho, persistência, continuação não meramente sazonal.
Mas, mais do que o incómodo da visão de tais impudências - as nádegas exageradamente transbordando gordura - lamento a ocupação a tempo inteiro das máquinas demolidoras de calorias que, chegando esta altura, estão quase sempre indisponíveis, tomadas que estão pelas moçoilas das bundas abundantes.
E é isto que, entre outras coisas, prenuncia o verão. O meu verão. O nosso verão. O verão de todos nós. Verão, ou não...?
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