quarta-feira, 5 de setembro de 2018

A maltinha do Equador



Quando se pensa no Equador, o país de maior biodiversidade do mundo por unidade de área, vem no imediato à nossa mente aquele pequeno país da América do Sul, limitado a norte pela Colômbia, a leste e a sul pelo Peru e a oeste pelo oceano Pacífico, cortado a meio pela linha imaginária do equador.

O país é dominado, na sua parte central, pelos Andes, a maior cordilheira do continente americano e detém a soberania das ilhas Galápagos (património Mundial da Unesco), que distam apenas a cerca de 1 000 km do território continental, onde nasceu o evolucionismo, criado pelo britânico Charles Darwin.

Imagina-se igualmente pessoas com aspeto de Incas, os descendentes daqueles que sobreviveram aos massacres sanguinários liderados por Francisco Pizarro - foram ainda mais os que morreram face às doenças transmitidas pelos colonizadores, para as quais não possuíam anticorpos.

Atualmente, a maioria da população equatoriana é mestiça, descendente dos colonizadores espanhóis que se miscigenaram com os povos indígenas - os espanhóis e os portugueses, contrariamente aos colonizadores da Europa do Norte, por todas as terras por onde passaram, sempre deixaram a sua semente e a mistura produzida criou um povo com traços sui generis e particularmente belos.

O IPL de Leiria celebra diversos protocolos com vários países, de forma a possibilitar a aprendizagem da língua portuguesa e posterior frequência de um curso de licenciatura, a jovens oriundos de várias partes do mundo.

O refeitório da ESECS, onde frequentemente almoço, acolhe desde há poucos dias um grupo considerável de jovens equatorianos. E, à conversa com alguns deles, no meu fluente portunhol, fiquei a saber que se encontram a frequentar um curso intensivo de língua portuguesa. No final, para os que tiverem aproveitamento, será possibilitada a frequência de um curso de licenciatura no IPL de Leiria.

No meu imaginário precoce, quem sabe burilado pela leitura do Tintin nos Andes, os equatorianos fazem-se acompanhar por lhamas, trajam roupas andinas multicoloridas, ponchos largos e usam chapéus e colares ​​ao redor do pescoço; e, da sua indumentária, deve obrigatoriamente fazer parte uma flauta de pã e um adufe.

No mundo globalizado onde vivemos, não fora os traços mestiços, o tom moreno da pele e os cabelos negro azeviche, que denunciam a proveniência sul-americana, os jovens que hoje soltavam risadas no refeitório, eram assustadoramente iguais aos seus congéneres ocidentais: o mesmo corte de cabelo à Justin Bieber, as tatuagens, os piercings, os brincos, as calças rotas, as sapatilhas, o tique inexorável dos polegares, que freneticamente deslizam nos ecrãs de telemóveis...

A Aldeia Global, com a criação de uma rede de conexões, que deixam as distâncias cada vez mais curtas, facilitando as relações culturais e económicas de forma rápida e eficiente, criou modelos estereotipados de jovens que seguem afanosamente os seus ídolos, com os quais se identificam e desejam imitar.

Mas, como em tudo, há os prós e há os contras, recordando o álbum conceptual de Roger Waters "The Pros and Cons of Hitch Hiking". Esperemos que os efeitos perversos desta irrevogável globalização, a que todos pedimos boleia, sejam mitigados pelo encontro do melhor dos mundos.

Boa sorte, maltinha do Equador!

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