sexta-feira, 16 de novembro de 2018

Contra as touradas



Há mais de 2000 anos, morriam, vítimas de formas criativas, nas mãos de gladiadores ou nas garras de animais, toda uma sorte de pessoas. Esses sacrificados podiam ser ladrões, soldados desertores, escravos ou, apenas, cristãos.

Ser condenado à morte, devorado por animais em coliseus, tinha até nome: damnatio ad bestias e ao longo de três séculos, desde a origem do cristianismo até a fé se tornar a religião oficial do império romano, esta prática perdurou.

Hoje, volvidos dois milénios, certos povos, que se afirmam pertencentes ao primeiro mundo civilizacional, para gáudio de uma multidão sádica, que regozija com gritos e incitamentos, tudo sob um pano de fundo musical - a música do suplício e da morte - , praticam a tortura e a morte em animais em arenas de coliseus (as chamadas praças de toiros - decalcadas dos antigos coliseus romanos); e chamam-lhes "espetáculos culturais".

A mutilação genital feminina também é considerada uma tradição em muitos povos e nem por isso não a repudiámos, criminalizámos e julgámos menos bárbara. Perante a tradição e o repúdio visceral pela tortura e morte dos animais, dois direitos em conflito, devemos seguir a regra do Direito mais forte como forma natural de superar a clivagem. Não há dúvidas de que a tourada é uma exceção bizarra a todas as leis e princípios pelos quais nos regemos e pautamos.

Acredito que é uma questão de tempo até que a existência das touradas seja uma mácula vergonhosa que assombrará as gerações presentes e vindouras que, perplexas, se interrogarão: como foi possível eles terem feito isto?!

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