domingo, 4 de outubro de 2020

 




Ontem estive a ver na SIC, com alguma atenção, um pouco do programa do César Mourão, que tem feito um grande sucesso televisivo.

Realmente, a vetusta fórmula encontrada pelo apresentador - com a qual o Herman José, seu mestre e comparsa, granjeou bastante sucesso - parece ser o facto de ele ridicularizar, com enorme alarde, mas sem galhardia, pessoas com fraquissimas competências educacionais, algumas repletas de ingenuidade. A tarefa consiste em procurar os melhores cromos da tribo, onde o programa vai ter lugar, os mais risíveis e que possam trazer o gáudio do público, ávido por espernear-se de riso perante o ridículo alheio. Mas o mais cruel, aquilo que verdadeiramente me indignou, foi o facto de estas pessoas, com uma satisfação quase sinistra, se voluntariarem alegremente para servirem de repasto ao sucesso do presuntivo comediante.

O Mourão arrecada os louros da vitória televisiva, mensurado pelas audiências, fingindo que acha muita piada aos dislates de gente com parcos recursos de instrução escolar, expondo-os ao ridículo, tarefa que eles próprios aplaudem, sentido-se pateticamente estrelas em noite de ribalta.

Goste-se ou não do programa, a verdade é que esta forma de fazer humor resulta sempre eficaz: expor as miudezas das criaturas mais caricatas entre a massa popular é sucesso garantido.

Para não ferir suscetibilidades, nada como fingir doçuras, carinhos e cumplicidades identitárias com a arraia miúda. E nisso o Mourão é mestre. Tudo isto é televisão, audiências, dinheiro e o César faz parte da maquinação.

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