sábado, 18 de junho de 2011

O nexo

Rio Lis - Leiria - Junho 2011
Quando ontem ao cair da noite mirei o Lis, apeteceu-me ficar ali até ser pedra, extasiado que fiquei com a luz da lua, difusa, alvejante, que estremecia  ao tocar na água. E nas horas em que um tédio assim improbo me tolhe, recordo que faz muito tempo não convido a lua para meu holofote de companhia. Por vezes são execráveis as náuseas dos diurnos, os momentos, os dias alvoraçados pela fartura do silêncio. Hoje, com a manhã, voltou o anónimo respirar do mundo e decidi-me sair deste mar morto de vida, acompanhado por um espelho argênteo que me segue com um espectro. Crente que as palavras imploram de mim uma expulsão,  há dias que me sinto um clandestino: vivo às ocultas, não consto em quaisquer registos dignos de merecimento, nem estou autorizado, pela burocracia vigente, a existir como pessoa. Privado do Direito de Ser, que não se me aplica, por não constar dos catálogos oficiais, estigmatiza-me a condição de estrangeiro. Que se lixe! Sou diferente. Sobreviverei numa garagem, num contentor; ou, já melhor acondicionado, na promiscuidade de um espaço demasiado pequeno com outras almas, tal como eu, rotuladas de 'inviáveis'. Mudar é para mim sinónimo de morrer.

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