quinta-feira, 18 de outubro de 2012

The fabulous four


Almada - final dos anos 60



À época, um agregado familiar composto por um casal com quatro filhos, no seio da classe média-alta, com fortes práticas e convicções católicas, era considerado normalíssimo. As famílias numerosas começavam a ser consideradas como tal nos casais com seis e mais filhos. As polémicas que hoje se geram com as chamadas "famílias numerosas", que, na sua ideação obsessivo-compulsiva de fazer meninos, invocando o "feito patriótico" do repovoamento do país, para obterem benesses fiscais, são uma das muitas hipocrisias que medram no tecido social. Todos sabemos que no Portugal de hoje, famílias numerosas só existem no seio de dois tipos sociais: aqueles que, por ignorância, pobreza de espírito, indiferença, egoísmo, obtenção de mais-valias com o rendimento social de inserção, entre outras motivações menos nobres, se reproduzem como coelhos; e, naturalmente, nas famílias ricas, que podem pagar, por cada rebento que geram, propinas de mais de 1500 € em colégios particulares, na sua maioria de índole religiosa, que são sempre os mais bem abençoados e também os mais caros, estadias em campos de férias na Grã-Bretanha, ou na Suíça,  reservados às elites sociais, estudos superiores em universidades estrangeiras bem conceituadas, entre outras mordomias a que só os riquinhos têm acesso. Nascer rico ou nascer pobre, é um desígnio que nos calha em sorte, um fruto aleatório, semelhante ao resultado numérico dos dados que se lançam numa mesa de pano verde. Ninguém escolheu nascer, muito menos com um certa e determinada condição económico-social. A responsabilidade é sempre daqueles que, por uma razão ou outra, decidem trazer muitos filhos ao mundo. Não são poucos os que pensam que é à sociedade que se deve imputar o custo com a educação e a alimentação dos seus filhos e que os impostos, cobrados à população em geral, inclusive aos que decidiram não ter filhos, seja por não poderem, ou por não quererem, devem servir de almofada para as suas, quantas  vezes, imponderadas decisões. Mas o que mais custa é ver famílias milionárias, com rendimentos mensais de milhões, apresentarem-se na comunicação social, no papel de vitimas de uma pretensa discriminação a que se dizem sujeitas, desgostosas com a ingratidão com que são tratadas, apesar das mais-valias humanas que pugnam trazer ao mundo, tudo a bem da nação, constituindo associações para a exigência de benesses fiscais. E tudo isto por causa das suas pulsões, aparentadas com a apetência pela cunicultura, das quais são os únicos responsáveis. Se querem ter muitos filhos, que os sustentem e não me peçam a mim, pagador de impostos, que contribua para educar a sua prole. O que mais não faltam, neste mundo cruel e injusto, é crianças a morrer de fome. Adoptem-nos, minorem-lhes a dor, eduquem-nos, seus hipócritas! Não me façam é a mim pagar pelas vossas histéricas decisões! Benefícios fiscais para famílias numerosas? Homessa! Jamais! Se quiserem, juntem-se à Associação Portuguesa de Cunicultura e ... lutem como coelhos que são!


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