terça-feira, 16 de julho de 2019

Desperdício alimentar



Como muitas pessoas que vivem só, sou um grande consumidor de alimentos já cozinhados, à venda nos supermercados e noutros estabelecimentos que servem refeições. Seja por preguiça, ou até por uma questão económica - para uma única pessoa, é mais barato comprar comida já feita do que gastar água, ingredientes e gás na sua confeção, bem como detergente na limpeza dos utensílios -, praticamente todos os dias compro refeições prontas.

Algo que sempre me questionou foi saber o que acontece à comida que não é vendida. Sei que o IPL (Instituto Politécnico de Leiria) tem um protocolo com certas instituições e sempre que há sobras estas são doadas, uma prática que deve ser saudada. Mas tendo perguntado aos funcionários de alguns supermercados, sobre o que acontece aos excedentes alimentares, foi-me dito que pura e simplesmente vão para o lixo. Ao que parece, a nossa legislação não permite que a comida confecionada seja mantida para além do dia em que é elaborada, e a política em vigor nos supermercados não permite, sequer, que os alimentos sobrantes sejam dados aos funcionários. Algo difícil de entender!


Todos os anos, de acordo com a FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura), desperdiçamos quantidades de alimentos que valem aproximadamente US$ 750 bilhões. Isso mesmo, enquanto estimativas apontam que 870 milhões de pessoas estão passando fome, o resto do mundo está jogando fora cerca de um terço de todos os alimentos que são produzidos. Apenas nos Estados Unidos, de 30 a 40% do fornecimento de alimentos pós-colheita acaba no lixo. É uma tragédia e uma falta de caridade. Bastaria um terço desse volume desperdiçado para amainar a fome no mundo.

A água que é usada para produzir comida desperdiçada é três vezes o volume do Lago Léman, ou três vezes o que flui pelo rio Volga. Por outras palavras, cerca de 35% do nosso consumo de água doce é jogado no lixo.

Desde 2016, os supermercados franceses estão proibidos de jogar fora alimentos não vendidos. Uma lei, aprovada por unanimidade pelo senado francês obriga as lojas a assinar um acordo de doação para instituições de caridade e bancos de alimentos. Um dos desejos é que a lei chegasse a toda a União Europeia para que também proíba o desperdício de alimentos nos supermercados.

Espero que Portugal, pioneiro em tanta legislação benéfica para a sustentabilidade humana, dê um passo em frente no sentido de contrariar este desperdício alimentar que é um crime. Mas a verdadeira revolução começa em casa e a partir da consciência de cada um. Colocar no prato somente aquilo que se vai comer. Temos de reduzir a porção de comida boa que vai para o lixo e pensar nas crianças que morrem a cada minuto por desnutrição.

Sem comentários:

Enviar um comentário