sexta-feira, 12 de julho de 2019

Uma aventura hospitalar num país kafkiano



Anteontem recebi um sms do centro hospitalar para ir efetuar uma colheita de sangue, com vista a uma consulta externa a ter lugar no próximo dia 19. Chegado ao hospital, deparo-me com uma greve dos técnicos de análises. Depois de uma longa espera, consigo remarcar nova colheita para a véspera da consulta. Mostrei perplexidade pelo facto de enviarem sms aos doentes para realizarem colheitas de sangue, sabendo que os técnicos estão em greve, mas fui respondido com um encolher de ombros da funcionária.

Entretanto, estranhando não ter sido chamado para efetuar um exame radiológico (pedido há 6 meses) para ser apresentado nessa mesma consulta, por uma questão de jurisprudência das cautelas e já sabendo o que a casa gasta, fui ao serviço de radiologia indagar. Mandaram-me retirar nova senha e, depois de outra espera de 40 minutos, a funcionária que me atendeu disse-me secamente que ainda não houve vaga para efetuar o exame e que seguramente só iria ser chamado depois da consulta ( marcada há 6 meses para o próximo dia 19).

Sabendo que o exame era essencial para ser avaliado na consulta, sem mais delongas, fui à minha médica de família e pedi que me prescrevesse o dito exame radiológico, para ser realizado particularmente. No hospital, entretanto, fui informado que a médica especialista da minha consulta externa só aceita exames realizados no hospital.

O SNS é o serviço público que regista mais queixas no livro de reclamações, as quais, por serem tantas, acabam, a maioria delas, por cair em saco roto.

A vulgaridade de um serviço de saúde público próximo de países do terceiro mundo, aliado a índices de corrupção, desgoverno e impunidade a todos os títulos inaceitável, gera compreensíveis ondas de revolta nos cidadãos.

Verifico, com mágoa, que passados uns tantos limites e confrontadas muitas vezes com a impotência, a ausência de recursos e irresponsabilidades, algumas pessoas quase deixaram de se indignar.

A normalização deste desconcerto sem concerto, faz com que acabemos por conviver pacificamente com este estado de coisas. O que apetece mesmo é ter uma reação primária e partir para a vindicta privada. Felizmente que possuo um confortável lapso de tempo entre a vontade e a ação e isso permite-me refrear- me e... respirar fundo. Adiante.

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