domingo, 8 de setembro de 2019

Eduardo Beauté



Leio as notícias do dia.

O cabeleireiro Eduardo Beauté, com 52 anos de idade, faleceu. Segundo os amigos e pessoas próximas, estaria doente, por demonstrar sintomas de depressão profunda. Não era a primeira vez que isto acontecia, como o próprio revelou em várias entrevistas.

Foi casado com o modelo Luís Borges, bastante mais novo do que ele, de quem se divorciou após discussões recorrentes e que foram alvo de alguns escândalos noticiados nas revistas cor-de-rosa. Entretanto, o casal tinha adotado três crianças, que ficam agora órfãs de um dos pais.

O famoso cabeleireiro, de seu verdadeiro nome Eduardo Ferreira, foi encontrado morto em casa no sábado passado. Aguardam-se notícias oficiais das causas da morte, mas tudo aponta para suicídio.

Aproximadamente uma em cada seis pessoas que cometem suicídio deixam um bilhete que, às vezes, dá pistas para as razões para essa atitude. Não se sabe, por ora, se isso aconteceu no caso do Eduardo.

Os comportamentos suicidas geralmente resultam da interação de vários fatores, sendo que o fator mais comum que contribui para o comportamento suicida é a depressão.

Pessoas que passaram por viuvez, separações ou divórcios, como é o caso de Eduardo, que confessa em algumas entrevistas estar a fazer um luto muito difícil da sua separação, têm maior probabilidade de consumar um suicídio.

Eduardo nasceu na Marinha Grande e foi em Leiria que abriu, nos anos 80, o primeiro salão em nome próprio. Chamou-lhe “Eduardo Haute-Beauté”. As pessoas, quando iam ao seu cabeleireiro, diziam que iam ao Eduardo Beauté e assim ficou sendo conhecido. Muitas pessoas de Leiria lembram-se bastante bem do salão de cabeleireiro e falam amiúde dele. Eu vi o Eduardo algumas vezes em Lisboa, mas nunca o conheci pessoalmente.

Infelizmente, a depressão, já considerada a doença do século e, segundo a OIT, responsável pela causa maior de abstinência ao trabalho, ainda é um estigma severo, para os atingidos pela doença; e vista com uma enorme incompreensão por todos aqueles que nunca sofreram desta maleita. Seja por grave ignorância ou insensibilidade pura - em geral as duas causas concorrem juntas -, as pessoas atingidas pela depressão são consideradas seres fracos, desistentes e criaturas a evitar. São muitas vezes estigmatizadas pelos ditos "seres não deprimidos" e rotuladas de inúteis.

Longe vão os tempos em que as pessoas atingidas por qualquer doença mental eram, juntamente com outros indesejáveis, a saber: alcoólicos, indigentes, criminosos reiterados, pedófilos, pederastas, sádicos, masoquistas e quejandos, encerradas em hospícios, que mais não eram do que casas dos horrores, como forma de os subtrair ao convívio social. O hospício era o pátio traseiro da sociedade.

Felizmente que, hoje em dia, nas sociedades com algum grau de evolução social, a inclusão de pessoas atingidas por alguma patologia mental é prática corrente. Mas ainda existem muitos jurássicos que - sorte a deles - nunca sofreram uma depressão e insistem menorizar as pessoas atingidas pela doença, classificando-os como párias sociais.

A mudança de mentalidades é um trabalho de décadas e por vezes séculos. Temos de esperar algumas mortes e nascimentos para ver renovado o tecido social com novas seivas de pensamento.

A confirmar-se o suicídio, Eduardo foi mais uma vítima desta secular doença e foi esta a única forma que encontrou de colocar um ponto final no atroz sofrimento que o consumia.

RIP, Eduardo

Sem comentários:

Enviar um comentário