sexta-feira, 1 de novembro de 2019

O Terramoto de 1755





No dia 1 de novembro de 1755, há 264 anos, talvez numa manhã nevoenta semelhante à de hoje, ocorreu um sismo violento que ficou conhecido por Terramoto de 1755. A Baixa de Lisboa ficou quase toda destruída e foi atingida ainda grande parte do litoral do Algarve e Setúbal. O sismo foi seguido de um maremoto e de múltiplos incêndios, tendo feito certamente mais de 10 mil mortos. Àquela hora, muitas pessoas encontravam-se na missa e foram esmagadas pela queda das abóbadas das igrejas. Foi um dos sismos mais mortíferos da História e os sismólogos estimam que o sismo de 1755 atingiu magnitudes entre 8,7 a 9 na escala de Richter.

A lembrança da procissão em honra de Nossa Senhora do Bom Sucesso, uma tradição que se cumpre desde 1756 em Cacilhas, no Dia de Todos-os-Santos, como sinal de agradecimento à santa padroeira da localidade pelo milagre, segundo os devotos, de ter evitado que Cacilhas fosse totalmente arrasada pelas águas do Tejo durante o sismo, seguido de maremoto,
faz-me recuar aos tempos primevos da minha infância.

Ex-seminarista, católico devoto, presidente da Conferência de São Vicente de Paulo, ex- militante da Mocidade Portuguesa, salazarista convicto e assumidamente retrógrado, o meu pai não falhava todos os anos esta procissão. Ninguém na família o queria acompanhar exceto eu, que gostava de ver os bombeiros fardados a rigor, transportando em ombros o andor e o homem do bombo, com umas enormes luvas brancas, a fazer ribombar as peles com um estrondo que ecoava pelas ruas.

Só muito mais tarde, ao estudar História, soube a razão de ser da procissão, que sai da Igreja de Nossa Senhora do Bom Sucesso e percorre as principais ruas da freguesia, antes de ser levada para a beira-rio, onde, depois de colocada defronte para Lisboa, se desenrola o ritual da bênção.

Educado na fé cristã, somente na adolescência ganhei maturidade e espírito crítico para consciencializar que não queria seguir os caminhos da cristandade. No entanto, a religiosidade e os seus rituais, impostos pela fé inquestionável do meu pai, entreteceu toda a minha infância e foi responsável por imensos episódios saborosos que recordo com alguma ternura e saudade. Na verdade, devo às práticas associadas à religiosidade, nas quais tomei parte como um ser impoluto e permeável, alguns dos momentos mais felizes da minha vida.

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