Quando dou passeios, tento estar sempre desperto para a possibilidade de me deixar encantar. O encantamento é inerente a cada instante, se podemos ter essa perspetiva e segurá-la carinhosamente contra o coração. O que me surpreende e me toca é que ainda, apesar de tudo, estou preparado para me deixar encantar. Posso conduzir por uma estrada de campo e, ao fazer uma curva, observar uma bela garça a elevar-se de um paul solitário até ao sol-poente. A subida vagarosa das suas asas até ao céu, corresponde a uma profunda inalação da minha própria respiração, uma expansão dos meus pulmões e do meu espírito para um espaço de satisfação. É, afinal, muito daquilo que procuro em todas as viagens ou meros passeios: a evasão, o encontro com o desconhecido, a surpresa. E a exigência constante que faço dos cenários que vou encontrando pela frente é pedir-lhes que me surpreendam.
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