quarta-feira, 27 de setembro de 2023

Guerra



Em tempo de guerra - it's an old saying, como dizem os ingleses - enquanto uns choram os outros fabricam os lenços. São os comentaristas de serviço e os de ocasião, que ganham fortunas por bolsarem opiniões e adivinhações nas várias estações televisivas; são as empresas de energia que têm lucros fabulosos por conta da subida dos preços; é o governo que obtém uma receita fiscal com resultados inesperados e sem precedentes; é a industria de armamento e, de um modo geral, todas as empresas ligadas à produção conectada com a guerra que arrecada lucros gigantescos; são as empresas fornecedoras de bens alimentares, com grandes stocks comprados a preços baixos, que têm lucros imensos ao venderem os seus produtos a preços inflacionados. Se demorasse mais tempo a refletir, certamente que me recordaria de outras pessoas que obtêm vantagens com o atual conflito. A guerra sempre foi uma grande oportunidade de negócio.

No final de tudo isto, quem sofre, quem se lixa, em português vernáculo e por todos entendível, é sempre o consumidor final, aqueles que não podem fazer repercutir os aumentos dos preços em ninguém; os que estão na base da pirâmide social, com especial enfoque para os mais desfavorecidos, economicamente tornados ainda mais vulneráveis face todos estes acontecimentos.

Não tarda, virá o incumprimento das prestações bancárias, as famílias que perdem as suas casas, a fome, o desespero, o rasgar de uma parte do tecido social. O mundo de 2022 ficará na História como um ano infame.

Inevitavelmente, muitas vezes é preciso fazer a guerra para conquistar a paz. E sempre assim foi ao longo dos séculos. O contrário disso, a submissão, a aceitação da chantagem, resultaria numa situação muito pior. O mundo democrático, livre, com todos os defeitos que tem, que ainda assim é o melhor modelo societário que conheço, deixaria de existir. O estranho é que a grande maioria das pessoas com quem falo, está mais interessada nos resultados desportivos, nas realidades comezinhas do dia-a-dia, porque acha que ver noticias sobre a guerra é depressivo e indispõe. Não é pelo facto de nos tentarmos alhear dos problemas que eles desaparecem e sendo um facto que nenhum de nós tem uma solução mágica para remediar o que está a acontecer, nada justifica a alienação da realidade.

Fosse eu substancialmente mais novo, e quem bem me conhece sabe que não faço afirmações vãs, estaria provavelmente na Ucrânia a defender a Democracia e os valores em que acredito e baseio a minha vida.

2022




2022

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