quinta-feira, 19 de dezembro de 2019

A Elsa deprimida

A depressão Elsa nome de flor miosótis nas minhas memórias juvenis assobia flauteados por entre as frestas das janelas enquanto a água pluvial cai copiosamente alagando o chão e os sistemas de saneamento básico rebentam pelas costuras saturados com quantidades que não conseguem digerir e bolsam como crianças engasgadas no vómito do leite e as pessoas amontoam-se à porta do hospital à espera que a chuva passe mas ela não passa e já quase ninguém consegue entrar ou sair pela porta das consultas externas tal a quantidade de receosos se aglomerou para ver os desmandos da Elsa e os vultos brancos que correm fugindo da chuva que devem ser médicos e enfermeiros e um deixa cair um estetoscópio no chão e volta para trás e os carros que se movem com vagar em passo de funeral com os vidros embaciados deitam fumos quentes que reagem histrionicamente ao frio exterior evaporando-se com rapidez exagerada com vultos lá dentro que se assemelham a espetros e então não por coragem mas porque tem de ser agarro na mota faço-me à estrada e venho para casa com a Elsa deprimida à pendura e chego à garagem muito parecido com o Gene Kelly no Singin' in the Rain quando lhe deitavam água para cima para parecer que estava a chover em dia de depressão feminina.

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