quarta-feira, 18 de maio de 2022

Um vício bom



Por definição, um vício é uma coisa má, um comportamento aditivo que nos arruina a saúde e nos causa imensos problemas no relacionamento social; um hábito repetitivo que degenera ou causa algum prejuízo ao viciado e aos que com ele convivem. Mas podemos apropriar-nos do vocábulo e torná-lo mais fofinho, transformando-o até numa contradição nos precisos termos: um "vício bom".

Caminhar na natureza, para além dos inegáveis benefícios para a saúde orgânica e psíquica, vicia. E eu que o diga. Quem já lhe provou o travo e superou obstáculos que dantes julgava insuperáveis, não abdica do imenso prazer que proporcionam os passeios pedestres na natureza.

Acredito que nos harmonizamos psiquicamente em contacto com o trinar dos pássaros, o som tranquilizante de um riacho que corre entre as pedras ou a lisura do vento que abana as folhagens. Que nos sentimos com mais paz quando atravessamos aldeias adormecidas e escutamos ao longe o balir das ovelhas. Que nos maravilhamos ao colher frutos de uma árvore que bordeja o nosso caminho.

A excessiva transformação que o Homem operou na natureza, o stress que congeminou para dar forma à afanosa competição social, afastou-o cada vez mais da harmonia natural das coisas. E são esses resquícios maravilhosos que ainda se encontram no oceano de pureza que é um bosque frondoso, onde as ilhas são aldeias quase desertas, que nós caminhantes demandamos.

Muitas pessoas, amigas e companheiras de tantas andanças, percebem ao que me refiro.


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