Tirei a carta numa Escola de Condução em Almada, em 1979, num Volkswagen 1300 igualzinho a este. Como eu já sabia conduzir, o instrutor, logo pela manhã, despreocupado com as lições que achava desnecessárias, parava sempre o carro junto a uma tasca, longe dos circuitos habituais de aprendizagem, e tratava de se atestar.
Dizia para eu ficar caladinho e que aquilo ficava só entre os dois. E depois fumava e cantarolava alegremente, ao mesmo tempo que lançava piropos às donzelas que seguiam pelo passeio.
Era um homem bonito, com patilhas e bigode, ar de engatatão, camisa florida, com golas tipo asa delta, tudo tão na moda no final dos anos 70.
Na época, abrir o vidro do carro e lançar palavras de charme, mesmo de teor picante, às mulheres que passavam, não só era consentido como tido por um comportamento masculino normal, viril até.
Ele deixava-me conduzir até à Costa da Caparica, para ver o mar, e eu, naturalmente, ficava muito feliz. No fundo, dávamo-nos bem e éramos cúmplices. Era a minha aula extra, que ele não consentia a mais ninguém.
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