terça-feira, 27 de dezembro de 2022

Corpo de nuvem



Não sei se é do teu olhar infindo de tempo e água e sede, se do teu cabelo louro e lento e longo de sedas que ignoro, se do teu cheiro leve de pétala e mares e desejos, se do imaginário toque de tua pele no preciso instante em que quase cruzámos os dedos e os afetos e os beijos – ou, ainda mais lentamente, os olhares. Sim, acho que, pelo menos, cruzámos os olhares, não?

Confesso outra vez, confesso. Confesso que apenas sei que desespero sem saber para onde olhar, em cada vez que te lembro. Sem saber, sequer, como te lembrar. A não ser nas dores. Sim, és tão linda que dóis no olhar. Sabes?

E as palavras - de que servem hoje e amanhã e depois e seja quando for, quando não são escutadas por ninguém, nem sequer pelas falésias, também elas sempre esquecidas pelos ecos e tempestades e, tal como as palavras, secretamente sussurradas à margem de ti e de teu corpo de nuvem?

Já agora – então e os sonhos, os desejos, o imaginar-te para além, muito para além de nua, quase tu, quase sede, quase pão, quase água, quase olhar? Que farei com tudo isso?
É que és linda, sabes?

Leiria - 2007



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