segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

O Eléctrico 28

Lisboa - algures  num dia de Verão
Há em Lisboa um Eléctrico que eu adoro, o célebre 28, que faz o trajecto desde a Estrela até à Graça, com passagem pelas zonas mais pitorescas da cidade. Este tão procurado transporte lisboeta, vem descrito em todos os guias turísticos sobre Lisboa como sendo altamente perigoso, por causa da afluência de carteiristas e ladrões de todo o género que o frequentam. Na verdade, em todas as vezes que  viajei  no percurso entre a Baixa e a zona da Graça, encontrei-o sempre carregado de camones, com máquinas fotográficas e filmadoras a tiracolo, numa pose de total desconcentração. Ou os turistas não lêem os guides com atenção, ou acham que só os outros, nunca eles, podem ser vítimas destes profissionais do gamanço. Da última vez que deambulei por estas bandas, em conversa com a guarda-freio, a mesma confidenciou-me que já os topava à distância, cada vez que entravam discretamente no Eléctrico, geralmente sempre aos pares. Mas à parte a efectiva perigosidade dos assaltos, não deixa de ser estonteante fazer uma viagem neste Eléctrico Chamado Desejo, que tanto cativou Wim Wenders, a ponto de o incluir no seu "Lisbon Story",  com a música omnipresente dos Madredeus como pano de fundo. Subir as ruelas estreitas de Alfama,  num dia  soalheiro de Verão, com o Eléctrico quase a roçar nos estendais das roupas, escutando em cada curva o trim trim constante da campainha, acenando às pessoas que passam,  tudo isto com o sol a  afagar-nos os braços e o rosto, é uma experiência no mínimo delirante.

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