segunda-feira, 7 de junho de 2021

Uma ideia luminosa



Sempre que alguém apresenta uma ideia fraturante, que rompe com o mainstream do “pensamento correto”, esta espécie de papa-açorda de “ideias adequadas” em que nos movemos no dia-a-dia, é logo apelidado de freak, demagogo ou populista - o vocábulo agora mais em voga que muitos usam e abusam ad nauseam. Para grandes males, grandes remédios. Sempre assim foi, assim é, assim será. Um grande problema necessita de uma grande solução. E não é preciso ser iluminado para perceber isto.

A saúde das pessoas, por estar intimamente ligada ao valor Vida, porventura o bem maior defendido pela cúpula do nosso sistema legal, deveria ter uma prioridade absoluta. Por outras palavras, deveria ser gratuita. Numa sociedade ocidental, que pugna pela Democracia, pela defesa dos elementares valores humanistas, não são concebíveis cenários como aquele a que hoje assisti na farmácia perto da minha casa. Um idoso, pelos trajes humildes, presumivelmente bastante pobre, perguntou pelo custo dos medicamentos que constavam da sua receita. Após ser informado do valor de 75 euros, disse que queria levar apenas remédios até ao custo de 15 euros, pois apenas dispunha dessa quantia.

Não, desta vez não me ofereci para pagar, apesar de já o ter feito em algumas ocasiões semelhantes. A minha bondade tem limites. Apenas anoiteci o olhar e fiquei consumido por uma raiva inexplicável. Como é possível que em pleno século XXI, num Estado que se diz Social, um idoso, que porventura terá trabalhado a vida inteira e feito os seus descontos, não tenha uma reforma digna que lhe permita cuidar da sua saúde?

Mas este problema, e outros semelhantes, tem solução. A dificuldade não está na ausência de recursos, salvações, artifícios ou formas de resolver a questão, mas antes na absoluta falta de vontade de mudar o status quo (que, no contexto da minha conversa, significa “o estado das coisas” e não aquela famosa banda pop rock dos anos 70) em que todos marinamos.

Perguntam-me: onde vai o Estado arranjar dinheiro para tornar o Serviço de Saúde totalmente gratuito, pelo menos para todos aqueles que não possam pagar? A resposta seria simples, fosse eu um ministro plenipotenciário para resolver esta questão. Primeiro que tudo, despojava-me de medos perante os poderosos, as teias de interesses e corrupção, as cáfilas de gângsteres que secretamente financiam eleições e partidos políticos. Depois, fornecia o sistema de saúde através de impostos altíssimos sobre as grandes fortunas, confisco de bens obtidos através da corrupção, agravamento fiscal sobre o álcool, o tabaco e quaisquer formas de vícios lesivos da saúde e esbanjadores de recursos com o tratamento dos aditivados. Taxava de forma severa os grandes ordenados, desde futebolistas, a dirigentes desportivos, passando por estrelas televisivas e quejandos, sem esquecer pelo caminho de diminuir os salários e privilégios de toda a classe politica. Vendia, a bons preços, toda a frota automóvel do Estado que não fossem carros elétricos. Tornava tendencialmente obrigatório o trabalho, para os que pudessem e estivessem a cumprir penas de prisão, a fim de que custeassem eles mesmos a sua alimentação e eventuais despesas com a saúde - que são imensas e oneram bastante os contribuintes, já que, numa grande maioria, são pessoas com doenças crónicas.

Depois de acabar esta safra, com tanto dinheiro recolhido e ter obtido o suficiente para garantir a gratuitidade total da saúde para os que mais precisam, certamente me sobrariam uns quantos milhões. Com esse dinheiro, construía mais hospitais, centros de saúde e melhorava os já existentes. Se sobrassem uns tostões, construía mais parques nas cidades e investia ainda mais na cultura. Ora digam-me lá que não são excelentes ideias?

PS. Votem em mim se querem os vossos sonhos realizados.

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