sexta-feira, 31 de março de 2017

O principio do prazer

Há momentos em que as palavras não passam de ruídos inúteis e nem merecem ser escritas. Mas é aí que entra o prazer; como por exemplo o prazer de escrever; ainda que seja para dizer quase nada. Há quem pense que existe, de uma forma geral, uma grande simplicidade nos humanos, e que estes orientam o seu funcionamento e o seu esforço para obter prazer a qualquer custo. Prazeres imediatos como aqueles que os sentidos proporcionam: o comer, o beber, o dormir, o ter relações sexuais - todo um conjunto de processos que os sistemas biológicos utilizam para se manterem em homeostasia. Depois, conclui-se que alguns humanos têm o gosto do detalhe, quando não da complicação. Esses prazeres sensoriais que passam pelo odor, pelo paladar, pelo som, pelo tátil e pelo visual não são necessariamente grandes prazeres em si mesmos. Costumam mesmo rodear-se de rituais complicados que não só acrescentam sentido como parece que, em alguns casos, são o próprio sentido. O prazer é pessoal e intransmissível, e há prazeres que são mais bem vistos do que outros. Mas os melhores prazeres são, sem dúvida, os diferidos, mediados pela capacidade de realização, de controlo e de adiamento, por contraposição aos outros, os instantâneos, que se obtêm com facilidade e se esquecem com rapidez. Felizmente que as fontes e os objetos dos prazeres vão mudando, garantindo a todos uma descoberta permanente daquilo que são, do que realmente gostam e o que lhes dá genuino e descomprometido gozo. O prazer, tal como muitas outras coisas, entra na girândola da vida e vai ganhando novas formas, novos ideais, outras valorações. O prazer é, talvez, a razão de ser maior da nossa existência - o leit motiv -, isto se o quisermos conotar com a essência da felicidade, o que não seria de todo desprovido.


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