sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Despedida

Fecho os olhos e vejo-te. Vens a mim quando te não quero. Há coisas que não se devem querer. Tu és uma delas, doce veneno. Agora já não há segredos. Corremos sem saber se vamos a tempo de saltar. Se queremos. Nesta existência precipitada, imprevisível de noites e pequenos nadas, acabei por não te dizer uma coisa, que nunca te disse, pois nunca veio a propósito. Uma vez, uma única vez, resolvi voltar aos locais por onde andámos juntos e chamei pelo teu nome, na esperança que surgisses ao virar de uma esquina, vinda na minha direcção, com um sorriso nos lábios. Sempre te achei intrigante, talvez por te faltar aquela necessidade natural que têm as pessoas de falar de si, e se justificarem. Eu nunca soube nada de ti e era por isso obrigado a inventar tudo e depois obrigado a desfazer o que tinha inventado e  recomeçar de novo. Era uma forma de amor em que eu fazia de Penélope e tu de Ulisses. De qualquer modo, cada um de nós deve parar com a brusquidão inútil da saudade e partir para não mais voltar. Qualquer um de nós deve estar preparado para uma travessia sem fim. E tudo voltar a ser o que era, antes de tu e eu sermos um do outro.*




* Texto escrito por mim, por volta do ano 2004 ou 2005, e 'surripiado' do 'Madrigal' 

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