sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Libreto de amor


Há palavras que têm sabor, palavras que se deixam degustar enquanto as sentimos rolar por sobre a língua, antes de abrirmos ao de leve os lábios para as deixarmos sair. Enquanto existem em mim, sabem a sonhos, a esperança, mas quando mas calas com um beijo e fogem para a tua boca, sabem-me a amor e a paixão; quando mais tarde as exalas inesperadamente, sabem-me a destino; quando mas sussurras ao ouvido; quando mas gravas com os dedos sobre a pele; quando mergulho os meus olhos nos teus e as vejo navegar na tua alma; quando vislumbro uma sílaba perdida no canto da tua boca e provo uma letra apressada no gosto do teu sorriso...

Há palavras que têm cheiro a mil passeios de mãos dadas, no parque, na praia...; que soam como música perdida nas estrofes de vento que refrescam o verão…; que uivam na tempestade para que as lembremos para sempre…; que cantam para nós de manhã para que o nosso despertar seja suave e melodioso…; que nos imprimem vida, movimento, ritmo… Há palavras que nascem bem dentro de nós e que ficam lá mesmo depois de as gritarmos ao vento e de as levarmos pela mão a conhecer o mundo de outra pessoa. Palavras que embalamos sem mesmo nos darmos conta e das quais nos alimentamos com cada vez mais avidez. São palavras que um dia nos batem à porta de mansinho e nos pedem para entrar… e não encontramos forças para as mandar embora… e deixamos que fiquem e que, aos poucos, vão tomando conta de nós… exigindo ser o nosso centro… o âmago de tudo…

E, quando, enfim, derrubadas todas as barreiras, nos preenchem, querem mais, querem ser partilhadas, porque são especiais, porque querem colorir os dias daqueles que amamos e unir-nos ainda mais, sem pressas, porque têm todo o tempo do mundo para fazer-nos felizes…

São palavras assim como: Amo-te! Que me aproximam de ti a cada dia que passa, palavras que me preencheram os silêncios e me elevaram os sonhos e, em cada um deles, consigo entrever linhas de vida ainda inesperadas, acenando-me por entre os traços do teu sorriso, convidando-me a aproximar-me, a prová-las na tua boca para sentir que são iguais às minhas, e que também elas querem que fiquemos juntos para sempre.*


*Um texto que escrevi há uns anos e que reencontrei meio perdido entre outras coisas. Apeteceu-me trazê-lo hoje de novo à colação, talvez por ter gostado tanto dele na altura em que o escrevi.

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