terça-feira, 20 de setembro de 2011

Um sussurro na madrugada

Nessa noite, passei-lhe a mão pela face, com receio. Ela sorriu-me. Timidamente. Por entre as árvores intrometia-se a lua, lá em cima, enorme e quase vermelha. Coisa que, apesar de tudo, continua a ser um acontecimento excitante para muita gente. Não lhe envolvi os ombros e mal lhe toquei. Aproximei ao de leve os meus lábios dos dela e beijei-a suavemente. Quase imperceptível, recortada como um destino esquecido entre a luz, foi a minha partida. Meneie a cabeça, até ficar com a lucidez exacta de ter acordado, e dirigi-me para casa. A recordação manteve-se algum tempo na memória. Deitei-me mas não dormi logo. Quando estamos cansados deitamos o corpo e adormecemos. Mas às vezes não. Procuramos outra mão, outros olhos, que nos limitem a fadiga e evitem o sono que nos vem antigo. Mas, tacteando, tocamos o silêncio e o vazio.
O que existe dentro de mim, por vezes, não sei se é amor, se é saudade, carinho, felicidade, ternura, tristeza ou paixão. Não quero rotular o que sinto. Sempre que o faço, limito os meus sentimentos. E desejo que eles sejam sempre intensos e inomináveis. Não acredito em  fórmulas certas com vista a resultados, porque não espero acertar sempre. Nem tão pouco consigo ser o que não sou, fingir o que não sinto. Não sei amar pela metade, não sei viver de mentiras, não sou capaz de grandes 'normalidades' e não sei voar com os pés no chão. Mas, com o rodar dos anos e o sangrar da vida, aceito-me cada vez mais, e isso pacifica-me.

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