terça-feira, 11 de abril de 2017

De dentro para fora



As memórias trouxeram-me à liça um texto que escrevi e publiquei precisamente há um ano atrás. Como nada do que então escrevi se encontra em desconformidade com a minha atual forma de pensar e sentir, resolvi (re)publicar as palavras que então me saíram de rompante.

A clivagem irremediável entre criaturas que vivem eternamente nas luzes da ribalta e os condenados a viver na sombra sempre me incomodou. Sacramentalmente, por razões do coração, onde cabem opções políticas e morais, entre outras, sempre me insurgi contra os poderosos e senti-me mais próximo daqueles que nada têm, e cuja importância é tão diminuta que grande parte da sociedade acha-se no direito de os desprezar. Esta minha forma de sentir afirma-se com clareza sempre que me deparo com pessoas de um certo calibre.

Os meus heróis pouco ou nada têm a ver com gente que dribla bem com uma bola nos pés ou nasceu para os lados da Quinta da Marinha, em piscinas repletas de dinheiro. No amor, em fazer bem ao próximo, na cultura, nas artes em geral, na música, na poesia e na literatura, fermenta-se a matéria com que são feitos os meus heróis - aqueles que não me importava de imitar, fosse o caso de possuir a sua verve.

Infelizmente, vivemos numa época de imediatismos, que atribui majoração a capacidades pouco recomendáveis e à posse de bens materiais. A ânsia insaciável de subjugar o próximo, a vertigem do poder, o estar acima do outro, são os valores-paradigma que guiam o tempo em que vivemos e no qual, confesso, não me sinto de todo integrado.

Talvez eu seja um romântico, no sentido mais comum da expressão, um idealista, um fantasioso, como já me chamaram, com um modo de pensar mais consentâneo com modelos societários hoje considerados retro, ou pertencentes ao jurássico das ideias. Confesso-me imperfeitíssimo e forram-me mais intenções do que as eventuais boas ações, que publicito, mas muitas vezes não pratico; mas, ainda assim, não abdico dos pensamentos que me constituem e integram. Não fora isso, o que seria de mim?

abril de 2015

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