sábado, 29 de abril de 2017



Tempos houve em que a verdade era mais que o antónimo da mentira. Já se acreditou, inclusive, que a verdade era uma espécie de quinta essência, um âmago de sentido, que justificava uma busca grandiosa, que tornava o caminho da vida num percurso de aperfeiçoamento e crescimento em direção a uma qualquer transcendência que faria de todos nós seres maiores e melhores. Acontece que, nesta época feérica em que vivemos, o desgaste do conceito atinge tais proporções que uma mentira, se dita vezes sem conta, acaba por se tornar verdade.


Nos nossos dias, deixou de ser preciso dizer a verdade e as elites que nos governam, aqueles que têm nas suas mãos o poder de escolher os desígnios e as políticas que nos vão reger, são os que em primeiro lugar nunca dizem a verdade. Passámos a encarar as mentiras de um alto governante, de um deputado, de alguém com responsabilidades sociais intensas, como algo natural, normalíssimo até. Já não acreditamos em intenções vitalícias e é (quase) lícito prometer uma coisa agora e no dia seguinte quebrar o compromisso assumido.

E esta falência da verdade é correlativa à emergência da disfuncão aflitiva dos órgãos de cúpula que nos regem, que toleramos e com os quais nos habituámos a viver, não desperdiçando mais do que um simples encolher de ombros quando alguém nos pergunta se, ao menos, nos questionamos: "O que hei-de eu fazer?".

Lírico eu? Talvez, mas a História prova-nos que só as revoluções conseguem operar as ruturas necessárias para extirpar os cancros do tecido social. Se assim é, venham elas!

Vitória ou muerte! (onde é que eu já li isto?)

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