quinta-feira, 4 de maio de 2017

O que é o amor?




Quantas vezes já alguém terá tentado definir o que seja o amor? Acho que não devem ter conta os ensaios escritos para a definição correta do vocábulo, e muito menos as tentativas para explicar o conceito. Por isso, perante reflexões bem mais aprofundadas que já foram proferidas sobre o assunto, não tenho a veleidade de me achar capaz de ser o arauto de uma interpretação mágica, finalistica, nem tão pouco pretendo com estas palavras inovar no que já foi dito por tantos ao longo dos tempos. Trata-se tão-somente das minhas preleções sobre o tema - um assunto que me é muito caro - e talvez seja isso o que me importa.

Amar uma mulher é um dos sentires que me faz mais feliz. Não tenho dúvidas sobre isso e, se algum dia as tive, com o avanço da idade, da experiência que tenho acumulado com o rolar dos anos, cada vez me convenço mais da certeza desta afirmação. É, porventura, das poucas certezas que nesta idade ventruda alicercei como uma certeza inabalável: o amor é redentor.

Ainda há pouco tempo - uma afirmação que me era muito grata e que creio ser da minha lavra genuína, escrita em algum dos muitos textos que por aí vou deixando espalhados, pois não recordo de a ter lido onde quer que fosse - dizia eu a algumas pessoas com quem entabulava conversas mais profundas, que não sabia ao certo o que queria da vida, mas de uma coisa estava sempre certo: sabia sempre com clareza enunciar aquilo que não queria fazer, que não queria que me sucedesse, os caminhos que não queria trilhar.

Acabava por ser uma postura algo redutora, pois há coisas que não queremos, por julgarmos que elas são fonte de infelicidade e acabamos por descobrir que, afinal, elas são potenciadoras de alegrias que nem suspeitávamos vir a poder sentir.

A certeza da relatividade das coisas, o abandono de posições demasiado extremadas, uma tolerância maior que nos surge sem ser anunciada, tudo são sinais de sapiência e maturidade, ganhos com o rolar da idade.

Hoje, acho que estou em condições de poder afirmar, com segurança e convição, que quero dar e receber amor e que essa permuta é a permissa irrevogável da minha condição de homem feliz e criatura maiúscula. Mais do que tudo, sem descurar a boa saúde, a satisfação das necessidades que considero essenciais, sei que sem amor - amar e ser amado, entenda-se - sou um ser amputado, uma espécie de planta sem nutrientes, que vai murchando de dia para dia e sobrevive por mero desígnio do acaso, à sorte da misericórdia de umas gotas de água que mal lhe chegam ao caule.

Para mim, os dias felizes são azuis. Claro que isto não passa de uma opinião. Haverá quem defenda os dias plúmbeos, com maciços de núvens baixas a ameaçar que o céu nos vai mesmo cair em cima da cabeça. E haverá, seguramente, quem se renda aos dias chuvosos e escorregadios que transformam as casas aquecidas em portos de abrigo seguros e tranquilizantes. Para mim, insisto, os dias felizes são os dias azuis; e espero por eles, choro por eles, ou vou à procura deles onde quer que eles estejam, às vezes bem longe de mim...

Há muitos géneros de amor. Acho que nisso todos estamos de acordo e, de uma forma geral, sabemos distingui-los. Mas, referindo-me mais em concreto ao clássico amor entre dois seres humanos, quando será possível termos a certeza de que o sentimento que nos assola é de amor e não de outra coisa qualquer, partindo do pressuposto que já sabemos o que ele é e, em consequência, conseguimos reconhecê-lo? A dúvida corróis-nos e ensaiamos definições de amor, paixão, química, deslumbre, com a mesma necessidade do rótulo que o analista tem de conferir aos seus pacientes.

O amor é um sentimento muito forte. Talvez seja o sentir mais intenso de que somos capazes, embora haja quem diga que o ódio ainda consegue reverberações maiores. Sobre este último não me pronuncio, pois acho que nunca odiei alguém, ou se tal aconteceu não durou mais que instantes. Quando me magoam imenso, é sempre a indiferença que se encarrega de me apaziguar, pois tenho o condão de «liquidar» as pessoas que me são hostis, ignorando-as e fazendo com que se mantenham longe ou desapareçam do meu horizonte visual e do meu pensamento. Desprezo, afasia, indiferença, são estados de alma que aprendi a gerir com mestria e sei que o tempo encarra-se de transformar a minha dor presente nalgum destes sentires, ou em todos em simultâneo.

Querer muito uma pessoa, desejá-la sexualmente, sentir uma ternura e uma vontade irreprimíveis de estar perto dela; ter vontade de lhe fazer bem; preocupar-se com o seu bem-estar; com tudo quanto lhe diga respeito; admirá-la; possuir uma vontade de partilha quase integral; gostar das suas virtudes - e até dos defeitos - é, quem sabe, um estado muito próximo daquilo que entendemos ser o amor; e muitos de nós, felizmente, já o experienciaram.

Sem querer, ensaiei uma definição, embora algo tosca, daquilo que é suposto ser o sentimento de amor entre um homem e uma mulher, ou entre dois homens e duas mulheres, que a diferença não existe, e confessei a importância que esse preenchimento tem para mim.

Amar é sublime. É, talvez, o sentido da vida que muitos procuram no lugar errado e, por vezes, está tão ao alcance de cada um de nós. Basta ser bom.

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