terça-feira, 18 de outubro de 2022

O buço da avó Marina



Anda para aí uma grande polémica motivada pelas palavras de um jovem professor que se insurgiu contra o facto de certos pais obrigarem as crianças a beijar os avós. Eu próprio, enquanto criança, fui alvo dessa contrariedade e confesso-me vítima de tal violência; e, como tal, não posso deixar dar o meu total apoio à tese do docente.

No meu caso, acontece que não se tratava apenas de um simples beijo, pois a dita senhora, há mais de 50 anos falecida, tinha um buço avantajado e enchia a minha pequenita face, alva e rosada, de beijos que me picavam e repugnavam.

O sacrifício era de tal modo tremendo, que eu fazia birras sempre que a íamos visitar, pois já sabia que ia ser brindado com tal saraivada de ósculos pegajosos.

Estávamos numa época em que a depilação já era regularmente praticada. O depilatório Taky, presente nos anúncios televisivos, era maioritariamente utilizado (não existia a diversidade comercial dos dias de hoje), mas não por mulheres septuagenárias de certa condição social.

O pelo no corpo da mulher, tornou-se uma questão mais política do que estética no último século. Nos anos 60 era comum entre as mulheres que se consideravam feministas e em 1978 Patti Smith pousou na capa do seu álbum Easter mostrando as axilas por depilar.

É óbvio que a minha septuagenária avó não sabia o que era o feminismo, nem perfilhava nenhuma destas tendências. Não se depilava simplesmente por achar a prática desnecessária.

Decretar afetos, obrigar alguém a simular uma manifestação de afeto que não possui, se não é uma violência cometida contra alguém - com a agravante de ser uma criança indefesa - que outro nome lhe dão?

Fonte da foto: Internet
(rosto de pessoa desconhecida)


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