segunda-feira, 7 de novembro de 2022

O ascensor



"Um elevador ou ascensor é um equipamento de transporte utilizado para mover bens ou pessoas verticalmente ou diagonalmente."

Esta é a definição corrente que podemos encontrar em qualquer dicionário sobre o significado da palavra ascensor. Para quem mora em apartamentos situados acima do 4º andar, torna-se bastante complicado abdicar da sua nobre função, em especial se nos fizermos acompanhar dos sacos das compras ou outros carregos.

O elevador, nas cidades modernas, onde os edifícios destinados a habitação ou escritórios, são construídos em altura, para melhor rentabilizar a área de construção, tornou-se um acessório insubstituível. Desde a sua invenção em meados do século XIX, os ascensores passaram a ser correntemente utilizados em prédios de habitação um pouco por todo o mundo.

Os elevadores mais rápidos funcionam desde 2016 no Guangzhou CTF Finance Centre, um arranha-céus situado na República Popular da China e são capazes de atingir 72,4 km/h, subindo do primeiro piso ao piso 95 em 43 segundos. Uma velocidade de cortar a respiração!

Não restam dúvidas de que o ascensor é um bem de primeira necessidade e para algumas pessoas de mobilidade reduzida, a única forma de acederem às suas habitações.

Acontece que nos prédios onde funcionam estas primas-donnas, o contributo mensal para a prestação do condomínio é substancialmente mais elevado, pois estas caixas mágicas "the state of the art", carecem de manutenção periódica e gastam muita luz. E quando acontece uma avaria grave, o custo da reparação é regra geral muito elevado. Nestas situações, também parece ser regra, o fundo de caixa do condomínio nunca ter dinheiro suficiente para dar provimento às reparações extraordinárias, seja porque o dinheiro foi gasto noutras urgências, ou porque há condóminos que entendem não ser sua obrigação pagar mensalmente a prestação que lhes é devida.

E, já que estamos em maré de regras, também é usual os condóminos dos apartamentos situados nos pisos inferiores, mas servidos pelo ascensor, acharem que não têm por obrigação pagar reparações de elevadores porque, dizem eles, utilizam as escadas. Um argumento que não colhe, pois de acordo com o disposto no artigo 1424º nº 4 do Código Civil, só não participam nas despesas de conservação e reparação dos ascensores os condóminos cujas frações não sejam por eles servidas. Situando-se a fração no rés do chão, no vestíbulo da entrada principal do prédio, e local de onde parte o elevador, como é óbvio, os respetivos proprietários não comparticipam nas despesas com o elevador.

Os ascensores são parte comum do prédio, tal como as escadas interiores, o telhado ou os acessos. Ninguém mandou os vizinhos do 1º andar, servidos pelo elevador, furtarem-se ao uso do mesmo com exercícios aeróbicos inusitados. Se querem fazer ginástica é a todos os títulos louvável e só lhes faz bem à saúde, mas ficam desde já convidados a darem todos os dias uma voltinha de ascensor, nem que seja para justificar a parte que lhes cabe na reparação do mesmo, que esperamos seja paga voluntariamente e não através de uma ação judicial movida para o efeito.

Morar em apartamentos, é mais prático do que habitar em moradias. É mais seguro, pois estatisticamente há menos assaltos; mais económico, já que as despesas de conservação são divididas por todos os proprietários; e mais fácil de conservar e manter a limpeza no espaço habitável. Mas "não há bela sem senão".

Morar em condomínios é aceitar o risco de não conhecermos o vizinho da porta do lado ou o que mora três andares abaixo. É viver lado a lado com pessoas que são arrendatários dos apartamentos e não se importam com a conservação do prédio. É conviver com a mudança constante de vizinhos e o desconhecimento sobre a sua índole. É igualmente viver na incerteza de não sabermos se coabitamos num prédio com psicopatas - pessoas capazes de prometer por termo à nossa vida quando lhes recitamos o Código Civil e os advertimos das suas responsabilidades como condóminos.

Para evitar tudo isto só vejo uma solução: viver numa cabana no cimo de um monte, rodeado de cabras e ovelhas, horta diversificada, ar puro e pasto e nunca sair de lá. Habitar num lugar sem ascensores, vizinhos quezilentos, gente que involuntariamente acercamos da nossa casa e das nossas vidas de uma forma indesejada.

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