domingo, 13 de novembro de 2022

O prenúncio do Natal



Esta tarde andei por Leiria e depois, por um motivo fútil, tive a infeliz ideia de ir ao Shopping sabendo que era uma tarde de domingo. Duas coisas safaram-me: fui de mota e usei o autoapagamento na caixa registadora. Ainda assim, não me livrei de um oceano de gente que circulava nos corredores e áreas adjacentes, muitas vezes sem olhar para a frente e literalmente chocando com os outros passantes. De quando em quando, encontrava um português, percetível pelo acento no falar, em tudo semelhante ao meu.

Depois de ver a quantidade de pessoas que se perfilavam para pagar, pensei seriamente em repor as ninharias que tinha comprado nas respetivas prateleiras e vir embora de mãos a abanar. Felizmente para mim e para as senhoras que trabalham nas caixas registadoras, muitas pessoas ainda têm medo do papão do autoapagamento ou pura e simplesmente resignam-se a esperar numa longa fila. Eu adquiri uma cada vez mais retinta agorafobia no que respeita a Centros Comerciais e outros locais onde se reúnam muitas pessoas.

Hoje seria para mim impensável ir, como outrora, a um festival musical em recintos gigantescos e sentir aquele gozo vibrátil com os encontrões e o ruído das colunas dos sistemas PA que quase nos estouram a cabeça. Dêem-me paisagens, montanha, natureza, ar livre, vento, mar, luzes naturais, gatos no colo e performances musicais em espaços de dimensão mediana. Todo o resto dispenso.

Desde há bastantes anos, perante certos estados de espirito, aprendi a gostar do valor do silêncio ou de uma certa harmonia musical. Quando estou menos sereno se há algo que me acalma é escutar música clássica. Nada de musiquinhas relaxantes, daquelas que escutamos em elevadores ou espaços comerciais requintados, com água a correr ou passarinhos a chilrear. Oiço Chopin, mais precisamente o Noturno em Mi-bemol maior, Op. 9: n.º 2., o meu preferido, duas ou três áreas de Bach, Beethoven "Für Elise", Ravel e Vivaldi. Tenho uma playlist das minhas músicas clássicas preferidas e a minha terapia consiste em colocá-las em repeat até me sentir mais calmo. Resulta quase sempre.

No Centro Comercial, já se sente o ambiente festivo do Natal que, para muitas pessoas, é apenas uma época de consumo exacerbado. Sob o ponto de vista ecológico, é também um período em que o estímulo ao consumo provoca um maior impacto ambiental, com o desgaste de recursos e a consequente produção de resíduos: aumento do uso energético e produção de gases com efeito de estufa. São poucos os que olham para o Natal como sendo a celebração cristã por excelência e a festa em que por tradição a família se reúne; isto para aqueles que a têm.

O Natal dos shoppings é o mais triste de todos. É aquele em que as decorações são apenas um estímulo ao incremento do consumo. Porque associamos há tanto tempo o Natal a presentes e, mais recentemente, a consumo desenfreado de comida, bebida e bens de todo o género, para miúdos e graúdos? As opiniões dos historiadores dividem-se. A “culpa” pode ser dos Reis Magos que levaram ouro, incenso e mirra à criança nascida na manjedoura, mas também da generosidade proverbial de São Nicolau para com os mais pequenos ou ainda dos romanos, a quem o cristianismo, como foi sua prática corrente, poderá ter “copiado” o festival do solstício de inverno, também conhecido por Saturnalia. Seja como for, recordo com saudade os natais sem excesso de consumo, em família, com religiosidade e tradição. E esses sempre foram para mim os verdadeiros e os mais felizes.



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