quinta-feira, 9 de junho de 2022

Diálogo vis a vis



"Nunca mais a viste?
"Não, nunca mais"
"E não sentes saudades?"
"Uma perda é sempre uma perda, mas o rolar do tempo mitiga qualquer perda. O tempo tudo amortiza e cobre de folhas as réstias de qualquer saudade"
"Sim, tens razão, daí a expressão «tempus fugit»
"Não sei se os latinos a empregavam com tal sentido, mas não há dúvida alguma de que o tempo é fugaz, impossível de ser aprisionado, tal como o voo de uma andorinha no alvor da primavera. O agora é uma mera ficção. Existe, sim, passado e futuro"
"Pondo de lado a filosofia, torno a perguntar-te: não sabes nada dela?"
"Não, absolutamente nada. Desde que a soube com aquele furriel italiano, não imagino se continua com ele se decidiu mudar-se para outra patente"
"Irónico como sempre..."
"Tu sabes, eu sei, que vós as mulheres procuram sobretudo duas coisas nos homens: segurança e afeto"
"Tens razão. Tenho de condescender que percebes bastante da natureza feminina e talvez por isso te movas tão bem no seio das mulheres - se quiseres, com o sentido metafórico e o menos metafórico da afirmação"
"Vês-me como um Casanova, uma espécie de predador de mulheres incautas. Para ti sou um mero colecionador de troféus, mas a maior cobardia de um homem é despertar o amor de uma mulher sem ter intenção de a amar"
"Essa frase vale para ambos. Já não há mulheres incautas e tu também sabes bem disso. Não te culpabilizes..."

Leiria, 2010


Sem comentários:

Enviar um comentário