quarta-feira, 7 de março de 2012

Da importância dos nomes que damos às coisas

Li algures que no século XIX, não raro, da leitura de alguns títulos de escritos em prosa ou em poesia, podia-se depreender todo o conteúdo - e muitas vezes a restante leitura mais não era do que um exercicío de desalento, sem surpresas assinaláveis. Em boa verdade, nunca me tinha apercebido verdadeiramente do quão ridículo era o epíteto com que eu havia batizado este blogue - "Picarenta Escrevente" - até ao momento em que decidi tornar a este espaço há muito abandonado. Sinto-me um pouco como o filho pródigo das paisagens da Biblía, que torna à casa paterna, com uma nuance que faz toda a diferença: sempre soube que regressaria. Voltei, sim, e, por minha vontade, para ficar. Estou de regresso das guerras púnicas do facilitismo, da fogueira de vaidades que é o Facebook, da escrita mecânica, singela, sem maturação ou verve, mas que possibilita a interação à la minute. Deixei-me preguiçar. Afinal é tão mais fácil escrever meia dúzia de patacoadas sonantes, ou publicar adágios, frases e escritos de outros que mereçam o nosso apreço. Dificíl é escrever, desenvolver, ligar a mente a uma torrente de palavras, que vão fiando aos poucos a explanação do nosso pensamento num curso coerente. Mas é reconfortante voltar a mim mesmo. Sentir que não careço - nunca careci - de plateias, nem do respaldamento das minhas ideias, para escrever o que me dá na real gana. Não tenho praticamente leitores. Escrevo num espaço pouquissímo divulgado, contrariamente ao Madrigal, nem me apetece publicitar a minha escrita. Sinto-me confortável na posição que a palavra aglófona melhor designa: low profile. Baixo perfil, numa tradução literal. Discreto, pouco divulgado, como um gentio que só convida para sua casa pessoas com quem deseja ter intimidade. É nesta linha que continua a escrita neste blogue. Uma Conta Corrente com a (minha) vida, que é, em muitos aspectos, assumidamente Contra a Corrente instituída e os modelos societários a que somos obrigados a aderir, sem nada poder estipular. Se pouco ou nada faço para mudar o estado das coisas, seja por impossibilidade absoluta, seja por inércia, ao menos que a escrita continue a ser para mim a melhor forma de catarse. E por esta via ainda me vou sentindo liberto; inclusive para, caso isso me agrade, dar uma maior importância aos nomes das coisas.

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