Li algures que no século XIX, não raro, da leitura de alguns títulos de escritos em prosa ou em poesia, podia-se depreender todo o conteúdo - e muitas vezes a restante leitura mais não era do que um exercicío de desalento, sem surpresas assinaláveis. Em boa verdade, nunca me tinha apercebido verdadeiramente do quão ridículo era o epíteto com que eu havia batizado este blogue - "Picarenta Escrevente" - até ao momento em que decidi tornar a este espaço há muito abandonado. Sinto-me um pouco como o filho pródigo das paisagens da Biblía, que torna à casa paterna, com uma nuance que faz toda a diferença: sempre soube que regressaria. Voltei, sim, e, por minha vontade, para ficar. Estou de regresso das guerras púnicas do facilitismo, da fogueira de vaidades que é o Facebook, da escrita mecânica, singela, sem maturação ou verve, mas que possibilita a interação à la minute. Deixei-me preguiçar. Afinal é tão mais fácil escrever meia dúzia de patacoadas sonantes, ou publicar adágios, frases e escritos de outros que mereçam o nosso apreço. Dificíl é escrever, desenvolver, ligar a mente a uma torrente de palavras, que vão fiando aos poucos a explanação do nosso pensamento num curso coerente. Mas é reconfortante voltar a mim mesmo. Sentir que não careço - nunca careci - de plateias, nem do respaldamento das minhas ideias, para escrever o que me dá na real gana. Não tenho praticamente leitores. Escrevo num espaço pouquissímo divulgado, contrariamente ao Madrigal, nem me apetece publicitar a minha escrita. Sinto-me confortável na posição que a palavra aglófona melhor designa: low profile. Baixo perfil, numa tradução literal. Discreto, pouco divulgado, como um gentio que só convida para sua casa pessoas com quem deseja ter intimidade. É nesta linha que continua a escrita neste blogue. Uma Conta Corrente com a (minha) vida, que é, em muitos aspectos, assumidamente Contra a Corrente instituída e os modelos societários a que somos obrigados a aderir, sem nada poder estipular. Se pouco ou nada faço para mudar o estado das coisas, seja por impossibilidade absoluta, seja por inércia, ao menos que a escrita continue a ser para mim a melhor forma de catarse. E por esta via ainda me vou sentindo liberto; inclusive para, caso isso me agrade, dar uma maior importância aos nomes das coisas.
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