terça-feira, 20 de março de 2012

Solitude



Uma das perturbantes circunstâncias das metrópoles e do nosso quotidiano é a solidão, que parece descer sobre as vidas de muitos de nós: os sem família, ou apartados dela, ou que viram as sua uniões afetivas um dia desfeitas;  nuns casos, ambas as coisas. A voracidade dos dias, o trânsito caótico, o trabalho desgastante, que nos consome recursos em demasia; o corre-corre de um lado para o outro, as discotecas com filas à porta e as noites a acabarem ao meio-dia; os relacionamentos fugazes, as seduções que, terminadas, reencontram o eterno vazio de que se forraram; parece que tudo isto amplia o sentido de isolamento, ao invés de conceder a esperável esperança de companhia e agradabilidade. São demasiados os que se queixam de um enorme sentimento de estarem sozinhos no meio da multidão e afirmam que é difícil encontrar alguém disponível para uma conversa amena; do quão complicado é chegar à fala com pessoas interessantes e da quase impossibilidade de desenvolver relações fortes com conhecimentos recentes. Mas a maior parte das vezes, por mais que façamos de conta que os motivos são outros, e são dos outros, basta olhar à nossa volta para ver com atenção o muro de isolamento e ostracismo que construímos no que às relações sociais respeita. E às vezes são anos e anos de deliberados distanciamentos ou de focagens excessivas, quando não obsessivas, não permitindo que alguém partilhe o bunker do relacionamento bilateral em que nos metemos. É verdade, sim, que há pessoas mais propensas a socializarem do que outras; é verdade, sim, que muitos de nós não gostamos dos conhecimentos em multidão e da possibilidade de nos podermos gabar: "tenho uma montanha de amigos". É verdade, sim, que as necessidades de isolamento e de interação divergem consoante a personalidade de cada um, mas não podemos ficar perenemente instalados nos nossos maniqueísmos do costume, querendo respostas simples e fáceis que expliquem tudo isto de uma forma linear. A personalidade de cada  um de nós é o resultado estrutural de uma construção que durou quase metade da nossa vida, daí ser quase impossível operar mudanças radicais; e a medida do que está correto, aplicada a tudo, é a dose certa de harmonia e temperança nas decisões, e na consequente acção, salvaguardado o consenso e o conflito da nossa identificação, que desejamos seja  ímpar.

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