segunda-feira, 26 de março de 2012

Sobre a violência doméstica



A violência doméstica é um problema universal que atinge milhares de pessoas, mas é muitas vezes silenciada e dissimulada, seja por vergonha ou simples medo, sem que ninguém, para além do agressor e da vítima, dela tenham conhecimento direto. Quantas vezes não escutamos gritos, choros e discussões violentas, vindas de apartamentos contíguos ao nosso, e pura e simplesmente nada fazemos? "Entre o marido e a mulher ninguém mete a colher", reza o ditado. Pretende-se perpetuar em absoluto o princípio da não ingerência em tudo o que respeite ao relacionamento de um casal. Esta é a regra de oiro que todos um dia intuímos e repetimos até à exaustão. Mas, não raro, os conviventes desavindos, no dia seguinte às agressões, passeiam de mãos dadas na rua ou no shopping, e sorriem um para o outro, para todos, como se nada tivesse acontecido. E quem arrisca meter-se onde não é chamado? Quem quer passar pela situação humilhante de ser convidado a meter-se nos seus assuntos, na sua própria vida? Quem quer fomentar  laços de inimizade com vizinhos com quem tem de lidar no dia-a-dia, mais não seja através de um lacónico "bom dia!", lançado no átrio das escadas, ou na garagem, e exponenciar a escalada  dos mimos e das trocas de galhardetes, comuns em quaisquer reuniões de condomínio?

Hoje, felizmente, graças à vulgarização de associações especialmente vocacionadas para lidarem com este tipo de problemas, é cada vez maior o número de vítimas que apresentam queixa por agressões em ambiente doméstico. Ainda existe um preconceito generalizado no que ao tema concerne e o agudizar da crise económica, com o flagelo do desemprego a subir em flecha, tem vindo a fazer aumentar os casos de alcoolismo e consequente violência no seio familiar. Cada vez são mais os conviventes numa relação conjugal que, face à situação de desemprego de um deles, passam a depender economicamente do outro; e são também em maior número as uniões que ainda subsistem por mera conveniência, seja devido a compromissos e dividas comuns, ou pela impossibilidade absoluta de um deles se conseguir libertar. Muitas vezes, ele ou ela, não tem para onde ir, não quer largar os filhos, a casa, ou não tem força para romper. E o problema não se confina a um universo sócio-cultural específico. Já ninguém consegue afirmar com seriedade que só os trolhas e os brutamontes, sem instrução e cultura, gente deserdada das regras da "boa educação" e, para mais, pobre, bate nas suas mulheres. Infelizmente, são bem conhecidas  histórias de Sr.(s) Dr.(s) importante (s), músicos famosos, empresários e gente do mundo das artes e da cultura, que espancavam as suas companheiras. Há uns anos atrás, falou-se do Tallon, do Pinto da Costa, do Artur Albarran, do namorado da Margarida Marante, entre outros crápulas, agora do Paco Bandeira, mas crê-se que as histórias conhecidas são a ponta do icebergue.

Desde muito novo, interiorizei que numa mulher nem com uma flor se bate. E espero que a divina providência sempre me guarde de ter um dia uma atitude diversa. Más disposições, todos as temos; dias menos bons, também. Mas para  tudo existem limites. Limites que jamais devem ser ultrapassados. Não se entendem, separem-se! Mas que raio, bater é que não vale!

Sem comentários:

Enviar um comentário