quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Mais para a esquerda


A clivagem irremediável entre criaturas que vivem eternamente nas luzes da ribalta e os condenados a viver na sombra sempre me incomodou. Sacramentalmente, por razões do coração, onde cabem opções politicas e morais, entre outras, sempre me insurgi contra os poderosos e me senti mais próximo daqueles que nada têm, e cuja importância é tão diminuta que grande parte da sociedade acha-se no direito de os desprezar. Esta minha forma de sentir afirma-se com clareza sempre que me deparo com pessoas de um certo calibre. Os meus heróis pouco ou nada têm a ver com gente que dribla bem com uma bola nos pés ou nasceu para os lados da Quinta da Marinha em piscinas repletas de dinheiro. No amor em fazer bem ao próximo, na cultura, nas artes em geral, na poesia e na literatura, fermenta-se a matéria de que são feitos os meus heróis - aqueles que não me importava de imitar,  fosse o caso de possuir a sua verve. Infelizmente vivemos numa época de imediatismos que atribui majoração a capacidades pouco prestáveis e à posse de bens materiais. A ânsia insaciável de subjugar o próximo, a vertigem do poder, o estar acima do outro, são os valores-paradigma que guiam o tempo em que vivemos e no qual, confesso, não me sinto de todo integrado. Talvez eu seja um romântico, no sentido mais lato da expressão, um idealista, um fantasioso, como já me chamaram, com um modo de pensar mais consentâneo com modelos  societários hoje considerados retro, ou pertencentes ao jurássico das ideias; mas, ainda assim, não abdico daquilo que me constitui e integra. Não fora isso, o que seria feito de mim?     

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