terça-feira, 8 de março de 2011

Augusta Emerita - Património da Humanidade

Templo de Diana
A ponte concebida pelo Arquitecto Santiago Calatrava
Anfiteatro romano
Teatro e Anfiteatro romanos
O acesso principal
A desproporção face à monumentalidade
Representações em mosaico
Estes romanos devem estar...bêbados!
Ponte romana - da idade da fundação de Mérida
Motard y montadera
Nas escadarias do Museu Arqueológico
A treinar para as corridas com os aviões
Reza o ditado que de sãos e de loucos todos temos um pouco, mas a minha dose de loucura é seguramente  mais forte do que a parte sã - que desaconselharia fazer uma viagem de mota de cerca de 1000 kms sob um  forte temporal. Devia ser óbvio para um  adulto como eu perceber, por via do crescimento e da maturação, que há coisas que já não se devem fazer e que o mundo fantástico da juventude, com o impulsivismo que o caracteriza, há muito que findou. Mas será mesmo assim comigo? A existência humana é feita de um contínuo de pequenos acontecimentos, a maioria sem grande importância nem impacto, mas de vez em quando, o fluir dos dias agiganta-se e diz-nos que é urgente fazerem-se coisas temerárias, completamente arredadas do convencional.  É talvez uma forma de abanarmos a modorra do quotidiano, sempre  amordaçado com tarefas obrigatórias e rotineiras, capazes de consumirem em lume brando a réstia da nossa paciência. Viver pachorrentamente ou inquieto, não é bem uma opção entre outras. Em cima de um temperamento que nos calhou em sina, acumulam-se experiências e formas de lidar com o que nos acontece, que nos transforma exactamente no que somos: nós mesmos, únicos, diferentes, extraordinários por isso mesmo. E a minha vida tem sido um contínuo de aventuras e inquietude, onde a  propensão para uma certa 'loucura' sempre ocupou  um lugar de destaque. E, ainda que assim não fosse, dizem os motards integralistas, que um motociclista que se preze  não deve temer as intempéries, nem claudicar perante os fatalismos da meteorologia. Para isso existem os fatos impermeáveis, as botas adequadas e toda uma parafrenália de equipamento que, se criteriosamente usado, nos protege totalmente da chuva e do frio. E é verdade que assim é.

Mérida fica relativamente perto da fronteira, pois dista apenas 60 kms de Badajoz. O caminho mais certeiro faz-se pela auto-pista (via rápida) que conduz a Madrid, ainda isenta de portagens, pelo menos enquanto o Zapatero não se lembrar de copiar a forma ávida de obter receitas inventada pelo seu amigo Sócrates. Sem me querer perder em grandes lições de História, que podem ser facilmente consultadas em qualquer enciclopédia que verse sobre o assunto,  oferece-me apenas dizer que Augusta Emerita, foi, durante muito tempo, a capital da Lusitânia e consta que o início da sua construção remonta ao ano 25 a.C. A cidade constituiu-se no centro mais importante da rede de comunicações do Oeste da Península Ibérica, quer por ser a grande capital, quer pela facilidade de transposição do rio Guadiana, mercê da construção da ponte - até aos anos 90 ainda utilizada pelo tráfego automóvel, mas  nos dias de hoje meramente pedonal - para onde confluíam muitas das estradas que cruzavam o território hispânico tendo por destino Lisboa.

Visitar Mérida é entrar no conhecimento de uma cidade romana com a sua monumentalidade extraordinariamente bem preservada, e tomar contacto com a evolução histórica e cultural do povo que a habitou. Quem dera aos portugueses possuírem a arte e o engenho de conseguirem conservar e reabilitar o seu património cultural da forma extraordinária que se observa em Espanha. Os nosso vestígios romanos, mormente em Conimbriga, são minudências comparativamente aos que se observam na Augusta Emerita, mas ainda assim podiam ser objecto de maiores cuidados. É tempo de perdermos a arrogância e, com humildade, aprendermos com quem faz melhor do que nós no que respeita ao tratamento do espólio cultural.

Deixei Mérida a meio da tarde de Domingo e rapidamente alcancei o Alentejo para uma paragem em Estremoz, apostado em tirar a barriga de misérias. E para não se pensar que já aderi ao maneirismo tóxico de dizer mal de tudo o que é português, teço, sem favor, rasgados elogios à nossa cozinha, pois quer na quantidade, quer no paladar, e também nos preços praticados pelos restaurantes, é sobejamente melhor do que a dos nuestros hermanos. Foi pois com agrado que comi um faustoso lanche composto por uma montanha de torradas, acompanhadas por chá preto com fiapos de leite. De seguida, despedi-me da minha companhia de viagem que rumou para sul. A viagem até Leiria, sempre de noite e debaixo de chuva, com uma única paragem para abastecimento na área de serviço de Santarém, foi feita em auto-estrada, já que era muita a vontade de chegar rapidamente a casa. Pelo caminho, enquanto conduzia,  fui pensando que todos os códigos de conduta, toda a sensatez universal, todas as definições intemporais do que é correcto, esgotam-se sempre um dia na minha mente, que se dispõe a transgredir com vontade e denodo o que era suposto ser, o que era suposto não se fazer. Parece que existe em mim uma vontade irreprimível de driblar aquilo que os sábios e os sensatos afirmam ser a forma certa de ser ou de fazer; e que, diga-se de passagem, é quase sempre uma grande seca.

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