terça-feira, 15 de março de 2011

Snobissímo!

Ontem, no meu local de trabalho, ainda não eram 09h00 horas, aproveitando-se da porta por mim deixada entreaberta, entraram de rompante na repartição uma figura famosíssima do futebol nacional e o seu sócio no mundo dos negócios, um tal Champaulimaud. Queriam ser atendidos muito depressa, pois alegadamente tinham compromissos profissionais a tratar no momento que não podiam esperar. Fiquei logo estragado. Em primeiro lugar, chamei-lhes a atenção para o facto de ainda faltarem vinte minutos para a abertura da repartição ao público; em segundo, fiz-lhes ver que não existem actos jurídicos à la minute, pois os poderes de representação, a análise dos documentos e o seu enquadramento legal, têm de merecer todos os cuidados, caso contrário a resposta à solicitação que me exigiam podia sair defeituosa e em vez de lhes facilitar a vida podia ser pior a emenda do que o soneto. Acalmaram-se um pouco com as minhas palavras mas, não passou muito tempo, desataram a perguntar quanto tempo ia demorar a elaboração do documento por eles solicitado. Entretanto, as chamadas para os seus telemóveis não paravam. Fiquei o mais calmo possível. Sentei-me, parei de falar e esperei que me dessem a devida atenção. Parece que a coisa resultou pois, findos os telefonemas, logo se desfizeram em desculpas pela interrupção. Quando lhes solicitei os documentos de identificação, a vedeta do futebol disse que tinha deixado o Cartão do Cidadão no carro e deixou-me estarrecido com a pergunta: "- Mas o Sr. não me conhece?" - "Não, não o conheço. O senhor conhece-me?" – respondi-lhe. Atrapalhado com ironia da minha pergunta, incapaz de reagir, prontificou-se a ir buscar o documento de identificação ao automóvel. No final, esperaram o tempo que foi preciso – os seus telemóveis nunca pararam de tocar e, ao que parece, os assuntos profissionais urgentes ficavam solucionados mediante as ordens secas e ríspidas que iam dando aos seus interlocutores. De seguida, as duas vedetas, assinaram o instrumento legal e despediram-se de mim com uma sucessão de muito obrigados. Ainda eram 09h30 minutos e eu já estava saturado de aturar vips snobissímos logo pela matina. Que coisa! Habituados que estão a subordinar tudo e todos, julgam que o mundo inteiro pertence ao seu universo gramatical. Eu não sou lacaio nem subordinado de personagens do mundo cor-de-rosa. Sou, outrossim, um mero funcionário público, que não olha a quem para servir e não se desfaz em doçuras nem deslumbramentos perante seja quem for. Aparecesse diante de mim a Rainha de Inglaterra a ver se eu não lhe pedia o passaporte!

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