Carlos Gardel, um dos mais famosos
cantores do tango argentino, celebrado em toda a América Latina pela
divulgação do género musical, é, curiosamente, apontado com uma das
influências primordiais de Amália Rodrigues. “A Morte de Carlos
Gardel”, o livro de António Lobo Antunes, por mim adquirido, depois de
ter estado em não sei quantas mãos, mas em óptimo estado de ser lido,
na feira de velharias e antiguidades que mensalmente acontece junto ao
Mosteiro de Alcobaça, é o terceiro livro de uma trilogia do escritor. O
romance é uma espécie de buraco negro onde apenas se encontra doença,
morte, ódio, cinismo e amargura. A ação localiza-se num bairro de
Lisboa do passado século XX e o tango ocupa o lugar central na vida de
várias personagens do livro. O protagonista, Álvaro, deprimido porque a
sua mulher o deixou, torna-se incapaz de amar e vive uma vida
amargurada, ganhando um rosto sem feições. A sua única razão de viver
passa a ser o tango, em especial o tango interpretado por Gardel “Por
una Cabeza”. É, justamente, o tango que mais se popularizou entre nós e
não terá sido por mero acaso que o trágico percurso de vida do cantor -
que culminou num estúpido acidente de aviação em Medellin, na
Colômbia, corria o ano de 1935 – serviu de fonte de inspiração literária
para um dos nossos mais ecoados escritores. A Argentina, ou mais
cirurgicamente, Buenos Aires, ainda transpira e ecoa a sensualidade da
música de Carlos Gardel. Dentro de pouquíssimos dias, vou ao encontro
dessas memórias vivas, onde espero encontrar os antónimos da tristeza e
do vazio. Sei que vou apenas pelo sentimentalismo.
(Leiria - 2006)
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