domingo, 29 de abril de 2012

Old Beach

Fonte: Internet - Praia Velha - São Pedro de Moel
O dia acordou cinéreo, friorento e as bátegas de chuva recomeçaram logo cedo pela manhã. Após o pequeno-almoço, talvez para quebrar a monotonia do recato do lar, do escritório confortável, quente, em ambiente adequado para trabalhar, escrever, ler, a minha escritora, companheira de muitas lides, teve a ideia luminosa de levarmos os portáteis connosco, a fim de trabalharmos num sítio diferente. Já nos meus tempos de estudante universitário, muitas vezes preferia o ambiente ruidoso dos grandes cafés de Lisboa, ou da linha de Cascais, em detrimento do silêncio solene e fúnebre das bibliotecas. Parecia que o facto de mudar de ambiente, trazia um novo alento à parca vontade de enfrentar a aridez das matérias jurídicas. De qualquer forma, a proposta para o dia de hoje agradou-me. A solução revelou-se bastante simples: acomodar os computadores dentro das maletas respetivas, calçar umas sapatilhas confortáveis, vestir roupa prática, não fosse o sol lembrar-se de aparecer e nos apetecer fazer uma caminhada após o almoço, e descer até à garagem para ir buscar o carro.   

Há um café-restaurante em São Pedro de Moel, aberto durante as vinte e quatro horas do dia, com vista para o areal da praia e o mar, chamado "Old Beach", com ligação wireless à Internet, música ao vivo às terças-feiras e aos domingos à noite e que serve refeições completas a qualquer hora do dia ou da noite, tudo ao som de bandas ou boa música ambiente. Não é minha intenção publicitar comercialmente o espaço - nada lucraria com o facto -, até porque o relativo isolamento do lugar, só acessível por transporte particular, garante um certo recato. É, aliás, deste estabelecimento  que estou a escrevinhar estas linhas, ao som de uma música instrumental, de quem não identifico a autoria, mas que mistura agradavelmente os timbres do jazz e da soul music. Na mesa ao lado da minha, um francês e duas francesas, provavelmente turistas acidentais, estão para almoçar. Riem desmesuradamente e falam pelos cotovelos sobre os mais diversos temas, na convicção absoluta de que ninguém, neste pequenote país, estivado por gente inculta, os entende. Comem ameijoas enquanto lambem com consistência os dedos e aposto que nem sonham que, neste preciso instante, entraram como por magia no fiar das palavras que vão correndo ao longo deste texto. O sol, embora timidamente, rompeu as nuvens e agora já apetece dar um passeio pelo areal, sorvendo a brisa que vem do lado do mar. As outras palavras ficam para próximas andanças, já que a escrita, tal como a prática da guitarra, também carece de exercícios que, muitas vezes, não têm necessariamente a ver com a harmonia dos sons. Escrever "just because", de quando em quando, também é bom.


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