sábado, 10 de setembro de 2022

O nosso tempo

As pessoas "como deve ser" querem-se ocupadas, sempre ocupadas, com coisas gloriosas. Devem fazer coisas, de preferência, úteis. Devem ser diligentes, atentas e interessadas, acordar cedo e ter um toquezinho histérico ou hiperativo logo pela manhã, para demonstrar, para exibir o tempo todo, atitudes de voluntarismo, vitalidade e energia. Pessoas lentas e desmotivadas como eu, pouco expeditas no que às tarefas que lhe desagradam respeita, ou só contemplativas, arriscam-se a passar por mandrionas, que é a alcunha familiar dessa preguiça nefasta. Confesso-me um daqueles "profissionais" que trabuca para a manduca. Prefiro, de longe, ler, escrever, viajar, conduzir motas, e fotografar o entardecer. Onde mora a gloriosa opção de ver a relva a crescer? Ou a doce volúpia de não fazer nada, ou só fazer o que se gosta? Quanto vale sermos donos do nosso tempo?


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