domingo, 18 de setembro de 2022

Planos de viagem

Planear uma viagem, concebê-la nos seus detalhes e munir-me de informação sobre o local que escolho visitar, já é um pouco saborear por antecipação o que imagino que me espera. É claro que a escolha do lugar é fundamental, pois tem de ser um sítio que me fascine e corporize o imaginário de um ensejo qualquer que há muito acalento. Viajo por necessidade de evasão mas também porque me quero sentir feliz; e a questão da felicidade é redonda como todas as questões pelejadas da subjetividade própria dos mortais: há pessoas que detestam viajar, quer porque se sentem inseguras fora dos seus territórios costumeiros, ou porque são demasiado comodistas; ou, ainda, por atavismo puro ou simples falta de curiosidade.

Quando escolho um local para visitar, há uma certa ideia de felicidade que alimenta essa opção e me dirige, porque sinto que ela me serve na perfeição de escudo protetor às contrariedades quotidianas e à carência de amortecimento do impacto das frustrações dos dias rotineiros: o excesso de trabalho, a permanência constante na mesma cidade, os problemas comezinhos, o simples fiar dos dias que se sucedem, por vezes mortalmente iguais. Por isso é para mim tão irresistível/importante a opção por um lugar que desempenhe essa função representativa de fuga ao trivial e seja a antípoda breve do que habitualmente me rodeia.

Ainda há pouco regressei a casa depois de ter dado um longo passeio pelos jardins da Fundação Gulbenkian, apreciando as árvores monumentais, os gansos a percorrerem o lago, velejando ao sabor da brisa que soprava suave na tarde que se esvaía e percorri todos os caminhos estreitos e labirínticos do jardim, acabando por desembocar sempre em clareiras esconsas onde dormitavam estátuas mudas.

Sentei-me um pouco para descansar e foi durante esses instantes de meditação que na minha mente se gizaram as futuras materializações deste premente desejo.

Lisboa, 2007


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