sexta-feira, 12 de maio de 2017

A epístola que encontrei escrita no rasto de uma estrela cadente




Peço à luz que me guarde e me mantenha fora do alcance das sombras, pois sempre que me entrego às memórias das nossas imagens juntos a minha pulsação abranda. Já quase não escuto o bater do meu coração. Talvez que um dia tudo se desmorone, mas se eu for capaz de continuar a contemplar a beleza e a viver na esperança do amor, não sucumbirei, pois são as únicas justificações irrefutáveis do ser.

Gostaria de acelerar o decorrer do tempo mas consigo apenas eternizar o presente. Evado-me de tudo o que este me mostra, desinteresso-me. E o presente, vazio de qualquer encanto, parece-me aborrecido. O verdadeiro amor exige intrinsecamente situar-se numa dimensão que ultrapassa os limites do tempo. E amar não é mais do que a expressão desse desejo de eternidade.


Ainda que o nosso espírito se desvaneça no dia da nossa morte como uma faúlha que se liberta do fogo, teremos, ainda assim, conhecido a eternidade durante o tempo em que sentimos o amor dentro de nós. E a eternidade de que falo consiste tão simplesmente em aproximar-me dessa luz de vida que é a inextinguível presença do amor...por ti.




* Barreiro - 2000

Sem comentários:

Enviar um comentário