quarta-feira, 31 de maio de 2017

Querido Diário!



Estou demasiado atarefado a fazer a mala. Parto hoje para Leiria, sabias? Vamos nos ver menos vezes, mas não quero que fiques triste. Às vezes, como sabes, o silêncio doira a saudade e aumenta o desejo do reencontro. Além disso, tu tens ciência de que a minha vida é agora mais lá para aqueles lados, onde o Lis serpenteia à sombra dos esgares de um castelo altaneiro. Volto agora para as tarefas do meu quotidiano banal, mas não quero que penses que te abandono; isso nunca! Tu sabes, eu sei, que vou como as aves, mas sempre regresso, mais não seja quando a saudade for tão forte que me impeça de continuar sem ti. Quero sair de casa antes do cair da noite, pois esperanço ainda ver os estorninhos na estrada. Não têm conta a esta hora, em revoadas sucessivas sobre as árvores. Depois o sol acalma e, lá para o fim da tarde, como é usual, uma sombra mole escorre para o alcatrão aquecido da estrada. Logo, mais tarde, quando a noite se sentar à minha beira e me sussurrar aos ouvidos, quero estar recolhido com os meus pensamentos em ti. Nessa hora aflitiva, a luz de mim mesmo é tudo o que trago comigo, porque também eu sou pequenino e tenho medo do escuro....*


Até sempre

(* Excerto de uma passagem de um diário - escrito em maio de 2006, faz agora sete anos, num final de tarde semelhante ao de hoje, em vésperas de vir trabalhar e morar em Leiria)









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